Mestre Afonso Domingues, um dos mais notáveis arquitectos portugueses do século XIV, é reconhecido como o primeiro e principal arquitecto do Mosteiro da Batalha. Nascido em Lisboa em meados do século XIV, possivelmente por volta de 1330, acredita-se que a sua formação inicial ocorreu na Sé Catedral de Lisboa, onde aprendeu o uso do malho e do cinzel. Foi neste contexto que, como aprendiz, integrou o grémio dos pedreiros, as corporações de mestres-de-obras que detinham os segredos e as técnicas da construção gótica. Estas guildas medievais, conhecidas como maçonaria operativa, com as suas tradições e simbolismo, são hoje consideradas as antecessoras históricas da moderna Maçonaria. Foi através deste sistema de transmissão do saber que Afonso Domingues dominou o estilo gótico que marcaria as obras mais importantes da sua carreira.

A fase de companheiro de Afonso Domingues é, em grande parte, incerta, uma vez que não existem registos documentais que comprovem a sua actuação em obras específicas. É, no entanto, provável que, antes de assumir a direcção da obra do Mosteiro da Batalha, tenha percorrido diversos estaleiros, onde aprofundou os seus conhecimentos e aperfeiçoou a prática dos ofícios da construção. Embora os detalhes dessa etapa permaneçam desconhecidos, tudo indica que foi um período decisivo na sua formação técnica e na consolidação do seu prestígio como mestre construtor.

Em 1388, Afonso Domingues foi nomeado mestre do Mosteiro da Batalha, obra monumental encomendada por D. João I em agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota. Durante os cerca de catorze anos em que dirigiu os trabalhos, até à sua morte por volta de 1401 ou 1402, foi o grande impulsionador da concepção geral do conjunto. A ele se deve o desenho e o início da construção de grande parte da igreja, da sacristia, do Claustro Real e da Sala do Capítulo. Embora não tenha conseguido concluir a totalidade da obra, que viria a ser continuada por David Huguet, a sua visão e mestria foram determinantes para a estrutura gótica que hoje conhecemos.

 

A figura de Afonso Domingues, um dos grandes nomes do gótico em Portugal, é frequentemente associada a lendas, como a que foi imortalizada por Alexandre Herculano no conto A Abóbada. Segundo essa narrativa, o mestre ficou conhecido pela coragem com que testou a solidez da abóbada da Sala do Capítulo no Mosteiro da Batalha, proclamando a célebre frase: “A abóbada não caiu… a abóbada não cairá.” Independentemente das lendas, o seu legado é inegável. É lembrado como o visionário que lançou as bases de uma das mais impressionantes obras arquitectónicas do país.

É em homenagem a esta figura de mestre construtor e ao seu impacto duradouro na arquitetura portuguesa que a Loja Maçónica Mestre Afonso Domingues nº 5, da Maçonaria Regular em Portugal, o tem como seu patrono.