À∴ G∴D∴G∴A∴D∴U∴
Na iniciação maçónica, logo após o nosso juramento e ao recebermos a Luz, defrontamo-nos imediatamente com as três grandes Luzes emblemáticas da Maçonaria Universal.
É sabido que, em qualquer canto do planeta Terra, nenhuma Loja Maçónica Regular executa seus trabalhos sem que o Esquadro e o Compasso figurem expostos sobre o(s) volume(s) da Lei Sagrada.
Sobre estes instrumentos podem-se apresentar inúmeras alegorias, pois significam uma coisa no sentido restrito das palavras e outra no seu sentido esotérico, representando na Maçonaria “grosso modo” o conhecido e o desconhecido.
Foi em meados do século XVIII que os irlandeses introduziram o conceito segundo o qual as Três Grandes Luzes da Franco Maçonaria passaram a ser o Esquadro, o Compasso e o Volume da Lei Sagrada, sendo que até esse período tais papéis eram atribuídos, ao Mestre da Loja, à Lua e ao Sol.
Foi por esses tempos que uma certa tonalidade, mais vizinha, ou mais próxima das Igrejas, apareceu, e ainda hoje se mantém nos nossos rituais.
O Esquadro e o Compasso estão sempre associados um ao outro no seu simbolismo maçónico. Estes dois utensílios são parte integrante e fundamental da formação do Maçon especulativo. Estes mesmos utensílios foram e são igualmente utilizados pelos construtores operativos desde os tempos mais recuados até aos nossos dias.
O Esquadro (do latim ex quadra – exquadrare) é um instrumento cuja propriedade/função é tornar os corpos quadrados.
O quadrado, por sua vez, representa a solidez, a estabilidade e a ordem; no Islamismo representa o coração do homem, e, no mundo espiritual é tido como o símbolo da Terra (matéria). Esse quadrado só pode, portanto, para nós, ter um significado: o dos estatutos da nossa Ordem e, de igual forma apenas age de um só modo: o do bem.
O Esquadro é o símbolo rigoroso da justiça e da conciliação; é, de algum modo, o nosso pavimento de mosaico: a justiça e a justeza; a equidade e a dualidade.
Este Esquadro é o símbolo da rectidão que nos permite cortar a pedra cúbica que desejamos incluir na construção do templo ideal; templo do qual somos, simultaneamente, os portadores e os construtores.
O trabalho do aprendiz, o nosso contínuo trabalho de aprendiz, é cortar/talhar a pedra bruta; pedra essa que, por sua vez, ao ser trabalhada cumpre a função de talhar/desbastar o seu artífice, qualquer que seja o seu grau.
Para melhor entender o simbolismo do Esquadro, é muito importante ter em consideração que o habitual, nos ofícios da construção, era ser o próprio trabalhador a fabricar/produzir ele mesmo uma boa parte das suas ferramentas de trabalho, nomeadamente o “seu” esquadro.
É este Esquadro que integra as 3 G∴L∴ da L∴, e ele está lá para garantir a transformação da nossa pedra bruta numa perfeita pedra cúbica.
Em consequência, podemos e devemos evoluir para pedras tendencialmente perfeitas, e assim passarmos a ser o elemento activo e o passivo, o constituído e o constituinte da edificação do Templo.
O Esquadro pois é a primeira das ferramentas que vemos quando consideramos as 3 G∴L∴ da L∴.
O Esquadro, um dos instrumentos operativos mais antigos, simboliza o céu, ou seja, o espírito.
O Esquadro é, como bem sabemos, um instrumento fixo, e o Compasso, por sua vez, um instrumento móvel. Se analisarmos a relação conjunta Esquadro – Compasso, claramente aceitamos que o Esquadro é o elemento passivo e o Compasso o activo.
O nosso Compasso simbólico é o mais simples de todos; é um compasso de ponta seca com dois braços móveis mas rígidos.
Dentro da sua simplicidade o Compasso tem dois usos principais; a saber, o de desenhar círculos (ou arcos de círculos) e o de transportar/transpor medidas de comprimento.
Esse nosso Compasso fica, em consequência associado à ideia de progressão, ou melhor, ao percurso da progressão.
Quando associado ao círculo, ele transporta-nos para o universo do qual círculo é o Símbolo, e, em consequência, em termos de intelecto, o Compasso será a “configuração/imagem” do Pensamento.
O afastamento dos braços do Compasso e a sua reaproximação, representarão eles os vários modos de raciocínio que, de acordo com as circunstâncias, podem ser abertos e abundantes ou fechados e precisos?
O ponto dentro do círculo, com toda a sua simbologia Maç∴ é o lugar marcado pela ponta seca do compasso; e, o círculo marcado a partir desse ponto é a primeira figura que pode ser desenhada com um compasso. Essa figura é o emblema solar por excelência e combina o círculo infinito com o ponto; o símbolo do início de toda a evolução.
O absoluto e o relativo são, portanto, representados pela acção do compasso, que por si só oferece a dualidade (pelos braços) e a unidade (pela sua ponta seca).
A Maç∴ limita a abertura do compasso a 90° e, por sua vez, o ângulo de 90° reproduz o esquadro; sendo, consequentemente esse o limite que o M∴ não pode transpor.
Agora que já sabemos que o Esquadro é o símbolo da Matéria, e o Compasso o símbolo do Espírito; temos então a representação do poder do Espírito sobre a Matéria.
O compasso aberto a 45º como o vemos em L∴ indica que a matéria não está completamente dominada, e, logicamente a abertura a 90º indicaria o equilíbrio entre as duas forças; o Compasso transformar-se-ia então, ele também, num Esquadro Justo e Perfeito.
No 1.º grau o Esquadro é colocado sobre o Compasso, significando isso que se pode/deve esperar sinceridade e ao mesmo tempo incutir confiança aos AA∴, pois nessa fase a Matéria ainda domina o Espírito.
Chegamos, finalmente, à última etapa desta prancha sobre as 3 G∴L∴; o “Volume da Lei Sagrada”, ou simplesmente “o Livro da Lei”, pois é esse o nome genérico que lhe foi atribuído para se evitar qualquer tipo de sectarismo, e assim cada um terá seu conceito pessoal respeitado.
O uso da Bíblia poderá ter sido o primeiro e ser utilizado e terá sido introduzido na Escócia em 1 637 no mais antigo rito da Maçonaria especulativa o “Mason’s Word”, nome talvez decalcado de “God’s Word”.
Era por esta expressão “God’s Word / Palavra de Deus” que, ao tempo, os Calvinistas da Escócia designavam a Bíblia.
O Livro da Lei, para o nosso espírito, significa, portanto, a Equidade.
Ele é o instrumento da Sabedoria que nos ilumina e nos guia, regulando a nossa conduta no lar, no trabalho, na sociedade e em I∴.
É sobre o Livro da Lei que é feito o nosso juramento, tornando-se ele o ponto culminante da nossa habilitação interior para o recebimento da Luz.
Não bastaria, a um aspirante a Maçon, o juramento fundamentado na Honra?
Não! Este acto solene é sempre realizado em presença do G∴A∴D∴U∴, adquirindo dessa forma um carácter espiritual que compromete a nossa consciência religiosa enquanto homens. Nestas condições, a nossa Honra e a nossa Fé são garantia da autenticidade das nossas afirmações/Juramento.
A recepção da Luz é, pois, o ponto culminante da iniciação maçónica, e tem como objectivo maior a relação que une o homem a Deus.
Este nosso “Livro da Lei” não se encontra estipulado em nenhum manual, constituição ou landmark. Ele pode ser qualquer Livro Sagrado de qualquer das religiões que crêem num Deus Único e Criador.
A única restrição é que: – esse volume deve conter, real e efectivamente, as Sagradas Escrituras de uma religião conhecida, e fazer referência a Deus.
Na maçonaria o vocábulo usado para designar Deus é, como sabemos “Grande Arquitecto do Universo” (G\A\D\U\).
Para finalizar, aqui vos deixo o meu ponto de vista sobre o tema versado, e em jeito de conclusão.
As três Grandes Luzes são uma excelente fonte educativa e pedagógica para o nosso processo iniciático.
São complementarmente, o progresso, da terra ao céu, da matéria ao espírito; são aquilo que nos pode levar a compreender e adoptar a mensagem da tradição iniciática, a jornada definitiva para o conhecimento.
As três grandes luzes são, tal como a trindade, um ternário, o que por si só é suficientemente complexo e, quiçá inexplicável.
Complexo e inexplicável, mas de certa forma simples e conciso e até cabalmente suficiente, porém, ainda paradoxalmente, em parte inexplicável para a minha concepção desta vida maçónica que escolhi.
Fazer um juramento solene é, sabe-se, um nobre e respeitável exercício. Quando prestei o meu juramento perante a L∴, tinha em mente manter os seguintes três objectivos: fazer crescer minha espiritualidade, ser um homem de honra e ser um cidadão fiel e correcto.
Este ternário tem moldado, mais firmemente desde então, o meu ideal espiritual e, um ternário dificilmente se quebra; já Salomão, muito antes da constituição da Maç\ havia dito: “Funiculus triplex difficile rumpitur” (Ecl. 4,12) (o cordão três fios dificilmente se rompe).
Tem sido/é este “triplex”, Compasso, Esquadro e Livro da Lei, a minha força, o meu alicerce, e o meu credo.
A Lei Sagrada para me dirigir e governar dentro da lei (ou fé); o Esquadro para ajustar as minhas acções; e o Compasso para me manter dentro de limites justos “In mensura, et numero, et pondere” (com conta, peso e medida) para com todos os homens, especialmente para convosco M∴Q∴II∴.
Até à minha iniciação, e em parte até à feitura desta prancha, eu não tinha percebido que a minha vida passada e o meu percurso eram regulados de acordo com estes símbolos de precisão e abertura; agora sei que eles governam, ou pelo menos pretendo que governem, os meus pensamentos e as minhas acções com a maior frequência possível.
O espírito iniciático em toda a sua transcendência, como eu gosto.
V∴M∴ disse
ARS M∴M∴


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