A Maçonaria e as Igrejas

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A Maçonaria e a Igreja Católica

freemasonryNo Brasil, durante a inquirição que é feita a um candidato inclui-se a afirmação que “alguns sectores religiosos condenam à Maçonaria” e pergunta-se ao candidato se sabe disso. Invariavelmente o inquiridor vê-se confrontado com uma série de perguntas, querendo conhecer os motivos que poderia ter a Igreja para condenar à Maçonaria e de que forma o maçon poderia ser prejudicado com esta condenação. Normalmente, os candidatos têm a ideia que é a Maçonaria que combate a Igreja e não o contrário.

Sobre as razões que a Igreja Católica poderá considerar ter para combater à Maçonaria, lembramos que no passado a Igreja Católica temia o desenvolvimento do conhecimento, temerosa de que espíritos esclarecidos pudessem questionar seus dogmas. Em 1717 ressurge, rejuvenescida na sua organização, a Maçonaria, como Maçonaria Moderna ou Simbólica, promovendo entre os seus membros a busca da verdade, o conhecimento do Homem e do meio em que ele vive, para assim alcançar o aperfeiçoamento da humanidade. Exalta a virtude da tolerância e rejeita todas as afirmações dogmáticas e todo fanatismo.

Este renascimento da maçonaria na sua concepção moderna acontece na Inglaterra, berço do cisma provocado por Henrique VIII que reagiu contra o Vaticano. Os homens que participaram da Maçonaria eram na sua maioria, protestantes, livre pensadores, capazes de contestar os dogmas e o poder que a Igreja exercia sobre o povo. Esta primeira Grande Loja publica em 1723 a Primeira Constituição do Reverendo James Anderson que “permite aos maçons seguir a crença religiosa que lhe convenha, deixando para cada um a liberdade da suas convicções próprias desde que sejam homens probos e honestos, não importando que crença pratiquem”.

A reacção da Igreja Católica contra esta Declaração de liberdade e tolerância religiosa demorou 15 anos. Esta demora pode ter sido pela lentidão das comunicações na época ou porque a Igreja não acreditou que a Maçonaria iria afirmar-se na Europa e no Novo Mundo. Quando começam a nascer Lojas maçónicas na Europa e USA aos quais a intelectualidade e a nobreza aderem, a Igreja reagiu lançando no dia 28 de Abril de 1738 a primeira Bula contra os franco-maçons, pelo Papa Clemente XII, sendo esta a conhecida como Bula mãe.

De nome In Eminenti Apostolatus Specula, esta Bula acusa os maçons como suspeitos de heresia em função do segredo e do seu juramento “pois se os maçons não fizeram o mal, não teriam esse ódio à luz“. A este primeiro motivo a Bula acescenta que “outros motivos justos e razoáveis, de nós conhecidos” existem, só que estes motivos nunca foram revelados. Historiadores pensam que o objectivo principal da Bula mãe era de carácter político. As 4 Lojas fundadores em 1717 da Grande Loja, em Londres, pertenciam a facção política dos Hannover (protestantes); a causa do catolicismo estava perdida na Inglaterra e o destronado rei Jacobo II dos Stuart, era recebido com toda a sua corte em Roma como exilado, sendo seu filho Jacobo III reconhecido pelo Vaticano como legítimo rei da Inglaterra. Considerando que, quando a Bula foi emitida, Clemente VII estava em adiantado estado de cegueira, havia perdido a memória e seu estado de senilidade não lhe permitia abandonar o leito, a Bula foi criação de um poder oculto que estaria atrás da hierarquia da Igreja.

A Bula, que sentenciava não só os maçons à excomunhão, como também a todos aqueles que promovessem ou defendessem a causa maçónica, teve nos países católicos diversas reacções. Foi notoriamente aceita na Florença, Veneza, Sardenha, Polónia, Espanha e Portugal. Nestes dois últimos países grassou a Inquisição e a História conserva o processo movido contra o maçom João Coustos, entre 1742 e 1744 em Lisboa, torturado e condenado às galés. Na Espanha, Felipe V promulgou em 1740 uma ordem contra os maçons, baseada na Bula, desencadeando uma sangrenta perseguição. Em Franca a Bula não surtiu qualquer efeito; não tendo sido registada pelo Parlamento de Paris nunca foi colocada em execução; mercê do adágio “Lex non promulgata non obligat“; o clero francês insistia em manter suas liberdades. Inclusive, durante todo o século XVIII os padres frequentaram as Lojas em grande número. Estas, aliás, eram profundamente católicas. A primeira edição francesa (1742) das Obrigações da Confraternidade dos Franco-maçons que contém os Estatutos em uso nas Lojas da França, refere que : “Ninguém será recebido na Ordem se não tiver prometido e jurado inviolável apego à religião, ao Rei e aos costumes”.

Muitas outras Bulas e Encíclicas têm sido emitidas todas similares em espírito. Convém esclarecer que uma Bula é um decreto do Papa e portanto deve ser obedecido pelo povo católico e que uma Encíclica é uma circular emitida também pelo Papa para esclarecer e orientar os fiéis sobre pontos de fé, doutrina e dogmas da Igreja.

Em 18 de Maio de 1751 o Papa Bento XIV promulga a bula Providas Romanorum Pontificum, que também enumera 6 razões:

  1. nas sociedades e assembleias secretas estão filiados homens de todos os credos; daí ser evidente a resultante de um grande perigo para a pureza da religião católica;
  2. a obrigação estrita do segredo indevassável, pelo qual se oculta tudo que se passa nas assembleias secretas;
  3. o juramento pelo qual se comprometem a guardar inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a prestar declarações ao legítimo poder;
  4. tais sociedades são reconhecidamente contrárias às sanções civis e canónicas;
  5. em muitos países as ditas sociedades e agremiações foram proscritas e eliminadas por leis dos príncipes seculares; e
  6. tais sociedades a agremiações são reprovadas por homens prudentes e honestos.

Um dos Papas que mas se destacou na campanha católica contra a Maçonaria, foi Pio IX. Durante o seu mandato como Papa (1848-1878) emitiu 116 documentos pontifícios com ataques e condenações às sociedades secretas. Curiosamente em 1823 foi iniciado numa loja maçónica em Santiago do Chile, Giovanni Maria Mastai Ferreti, futuro Papa Pio IX, então Secretário do Núncio Apostólico Muzzi. Poder-se-á alegar que o intuito dele ingressar na Maçonaria teria sido o de conhecer mais de perto o inimigo da fé. Em 27 de Março de 1874 a Grande Loja Escocesa de Palermo, Itália, eliminou da Ordem o Papa Pio IX acusado de perseguir seus irmãos. Além de perseguir à Maçonaria, Pio IX foi um ardente anti-semita.

Estas acções da Igreja tinham uma força terrível, pois a Igreja era a instituição mais poderosa da sociedade ocidental, sobre a qual exerceu influência marcante, tendo o Papa se tornado o dirigente supremo do mundo ocidental. A Igreja, na época, formulava princípios relativos às actividades económicas, controlava o ensino, ditava normas relativas a organização familiar, na política cristianiza a autoridade de Reis e Imperadores mediante a unção e sagração. Afirmava que o poder leigo governa os corpos e o poder eclesiástico governa as almas e como à alma é superior ao corpo, a autoridade eclesiástica sobrepõe-se à autoridade leiga. Ao Papa, como chefe da Igreja e representante directo de Deus na Terra, corresponde o governo supremo da sociedade cristã, à qual pertencem Reis e Imperadores; além do mais, Reis e Imperadores, como os demais homens, podem cair em pecado estando sujeitos ao julgamento do poder eclesiástico. Numa sociedade assim dirigida, pode-se avaliar o que representava a pena de excomunhão que colocava o condenado fora da comunidade e o privava de todos seus direitos.

A Igreja tem também emitido diversos decretos contra a maçonaria, que se têm avolumado no Codex Juris Canónico formando o conjunto de leis que consolidam o direito dentro da Igreja. De todos eles os mais fortes e conhecidos são os números 2335 e 2336 que castigam com a excomunhão as seitas maçónicas que maquinam contra a Igreja ou contra as autoridades cíveis legítimas e promove a denúncia dos clérigos que participam em Lojas maçónicas.

Unicamente para efeitos documentais reproduzimos a seguir os decretos principais emitidos contra associações de tipo maçonaria e similares:

  • 684 – Fideles laude digne sunt, si sua dent nomina associationibus ab Ecclesia erectis vel saltem commen datis; caveant autem ab associationibus secretis, damnatis, seditiosis, suspectis au quae studeant sese a legitima Eccesiae vigilantia subducere.
    • São dignos de louvor os fiéis que se inscreverem nas associações erigidas ou ao menos recomendadas pela Igreja; mas fugirão das associações secretas, condenadas, sediciosas, suspeitas, ou que procuram evadir-se da legítima vigilância da Igreja.
  • 693 – Acatholici et damnatas sectae adscripti aut censura notorie irretiti et in genere publici peccatores valide recipi nequeunt.
    • Os católicos e os adscritos às seitas condenadas, ou os notoriamente incursos em censura e, em geral os pecadores públicos, não podem ser recebidos com validade.
  • 1240 – #1 Ecclesiastica sepultura privantur, nisi ante mortem aliqua dederint poennitentiae signa : Notorii apostatae a christiana fide, aut sectae haereticae vel schismaticae aut sectae massonicae aliieve eiusdem generis societatibus notorie addicti;
    • Estão privados da sepultura eclesiástica, a não ser que antes da morte houvessem dado algum sinal de arrependimento os notórios apóstatas da fé cristã ou os notoriamente filiados numa seita herética ou cismática ou seita maçónica ou outras sociedades do mesmo tipo.
  • 1339 – Ipso iure prohibentur (# 8 – Libri Qui duellum vel siucidium, vel divortium licita statuunt, Qui de sectis massonicis vel aliise ciusdem generis societatibus agentes, eas utiles et non perniciosas Ecclesiae et civili societati esse contendut):
    • Estão proibidos por este decreto (# 8) Os livros que declaram lícitos o duelo e o suicídio, ou o divórcio, e os que tratando das seitas maçónicas ou de outras sociedades análogas, pretendem provar que, longe de serem perniciosas, resultam úteis para a Igreja e a sociedade civil.
  • 2335 – Nomem dantes sectae massonicae aliisve eiusdem generis associationibus quae contra Ecclesiam vel legitimas potestates machinantur, contrahunt ipso facto excommunicationem Sedi Apopstolicae simpliciter reservatam.
    • Os que dão o seu nome à seita maçónica ou outras associações do mesmo género, que maquinam contra a Igreja ou contra as potências cíveis legítimas, incorrem imediatamente do ato, em excomunhão simplesmente reservada à Sede Apostólica.
  • 2336 – # 2 – Insuper clerici et religiosi nomen dantes sectae massonicae aliisque similibus associationibus denuntiari debent Sacrae Congregationi S. Officii.
    • # 2 – Os clérigos e os religiosos que dão o seu nome à seita maçónica ou a outras associações semelhantes, devem também ser denunciados à Sagrada Congregação do Santo Ofício.

Que devemos entender por “maquinar contra a Igreja”? A resposta é dada pela própria Igreja que através dos séculos tem acusado a maçonaria de acções que correspondem a este “delito”; a seguir transcrevem-se alguns exemplos:

  • 1751 – Os maçons enganam os fiéis com falsa filosofia e vãos sofismas
  • 1844 – Maçons e cristãos são essencialmente inconciliáveis
    • A Maçonaria declara que a razão humana é o meio de alcançar a verdade
  • 1846 – A Maçonaria diz que qualquer religião é digna
    • A Maçonaria nega obediência e revela-se contra os Príncipes
  • 1849 – A Maçonaria propicia a abolição do poder civil da Igreja
  • 1850 – A Maçonaria propicia que a escola pública deve depender do poder civil
  • 1851 – A Maçonaria diz que a Verdade não é exclusividade da Igreja Romana
    • A Maçonaria diz que reis e príncipes estão isentos da jurisdição da Igreja
    • A Maçonaria diz que a Igreja não tem autoridade para usar a força
    • A Maçonaria diz que o Direito Civil prevalece frente às leis da Igreja
    • A Maçonaria diz que o vínculo matrimonial é indissolúvel e pertence ao Fórum civil
  • 1852 – A Maçonaria pede a separação da Igreja e do Estado
  • 1854 – A Maçonaria declara que o poder civil de um país pode definir os direitos da Igreja
  • 1855 – A Maçonaria nega à Igreja Católica ser a única religião do Estado
  • 1861 – A Maçonaria pede que a Igreja se reconcilie com o progresso, o liberalismo e a moderna civilização
  • 1862 – A Maçonaria declara que todo homem é livre de abraçar a religião que a luz da sua razão lhe indicar.
  • 1864 – A Maçonaria está a favor da democracia e da instrução popular. A Maçonaria ignora a proibição de pertencer à seita maçónica e declara que essa proibição está contra a lei e a honestidade

Pese todos estes ataques da Igreja contra a Maçonaria, esta tem continuado o seu desenvolvimento silencioso abraçando praticamente todos os países do mundo onde existam regimes normalmente livres, e a Igreja Católica, tem diminuído sua influência no mundo ao ponto que hoje representa bem menos do que antigamente no desenvolvimento das ideias; os seus sacerdotes começaram a envolver-se com doutrinas políticas que a Igreja sempre combateu e o interesse por ingressar nos seminários é cada vez menor. Os ultra-conservadores que no comando da Igreja criaram a Inquisição e o Opus Dei, cedem seu lugar para dirigentes humanistas que tentam dialogar com aqueles que por enquanto são chamados de “irmãos na separação”.

Em 1928 acontece uma reunião em Aquisgran entre o padre jesuíta Hermann Grüber e os maçons Lang, Lennhoff e Reichel e todos concordam na necessidade de suprimir de ambos lados os argumentos não objectivos, caluniosos e ofensivos.

Durante a 2ª Guerra mundial, o Núncio Roncalli, futuro Papa João XXIII, trabalhou pela causa aliada juntamente com os maçons Riandey e Marsaudon, da Resistência francesa.

No 2º Concílio do Vaticano já houve declarações bem diferentes das posições intolerantes do passado e, em Fevereiro de 1969, Alce Mellor, advogado católico francês, pede e recebe autorização do Vaticano, para ser iniciado na Loja L’Espoir No 35 da Grande Loja Nacional Francesa, o que acontece em 29 de Março do mesmo ano.

Após sua iniciação, Allec Mellor transcreve em livros as suas impressões sobre a Maçonaria e tenta demonstrar que os anátemas da Igreja contra a maçonaria deixaram de ter validade e efectividade. Estes livros de Mellor ganham a adesão de maçons que professam a fé católica e, em paralelo com  eles aparecem outros autores dando a impressão de que existe um movimento interno tendente a provocar uma cisma dividindo a Maçonaria com fé revelada e Maçonaria baseada na razão e na ciência; para a Igreja a primeira seria Maçonaria regular e a outra espúria ou irregular. A Confederação Maçónica Inter-americana reunida na sua VIII Conferência de São Domingos (Março de 1970), alertou sobre erros e confusões que estes “reformistas” pretenderiam provocar, lembrando as diferenças e a contradição existente entre a Igreja Católica e a Maçonaria, sendo o maior obstáculo para estes reformadores o facto da Maçonaria ser uma instituição para homens não alienados pela obsessão do sobrenatural.

O próprio Cânone 2335 começa a ser questionado. Respondendo a uma consulta do cardeal John Joseph Krol, de Novo Iorque, em 18 de Julho de 1974, o Cardeal Prefeito do “Sacra-Congregatio Fidelis” do Vaticano, responde que o Cânone aplica-se somente aos católicos que se filiem a associações que conspirem contra a Igreja mas que, os clérigos e religiosos continuam sempre proibidos de pertencer a qualquer instituição maçónica. Trata-se de um pequeno avanço no campo da tolerância religiosa.

Em 1968, sempre sobre o Cânone 2335, o Grão Mestre da Grande Loja Unida da Alemanha, Theodor Vogel, contacta o Cardeal de Viena, Franz Koening, e deste diálogo surge uma Comissão formada por maçons e autoridades eclesiásticas que tem várias reuniões. No final destas reuniões é divulgada a Declaração de Lichtenau, em 5 de Julho de 1970, que advogava o fim da controvérsia, ao referir que as Bulas referentes à Maçonaria tão-somente têm interesse histórico, não fazendo sentido nos tempos actuais e que a Lei Canónica torna-se impossível para uma Igreja que ensina a amar seus semelhantes.

Em Novembro de 1973 foram iniciadas conversações entre representantes da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e da Confederação Maçónica do Brasil para estudar as doutrinas católica e maçónica. A iniciativa surgiu em 1971 através de Dom José Ivo Lorscheiter, então Secretário Geral da CNBB. Desde o seu inicio, a primeira reunião de facto aconteceu em 1993, os encontros anuais tem sido realizados em Porto Alegre (RS) e as discussões são sobre temas sobre os quais possam existir possíveis “divergências doutrinárias” entre as duas instituições.

Dois pontos principais tem sido levantados pela Igreja como posição de reserva em relação à Maçonaria:

  1. O ritos simbólicos, centrando tudo no ser humano, reconhecem ainda a “Revelação Cristã”? Ou que espaço deixam à “Revelação Cristã”, que os católicos reconhecem e aceitam?
  2. A procura racional da verdade, a moral autónoma, deixam espaço para a graça e a salvação em Cristo?

A Maçonaria tem explicado que os Ritos simbólicos não centram tudo no ser humano como afirmado, uma vez que partem da premissa de prevalência do espírito sobre a matéria, cuja fonte é o Grande Arquitecto do Universo (Deus) existindo assim, espaço para o fortalecimento da fé (de todas as religiões) adoptada pelos seus adeptos, constituindo-se a “Revelação Cristã” uma verdade para os maçons católicos, que não pode ser questionada pela Maçonaria ou pelos maçons de outros credos, segundo a doutrina que se extrai desses ritos.

Quanto ao segundo ponto, a procura racional da verdade afirmada nos rituais desses Ritos não tem origem na moral autónoma. Ao contrário, subordina-se à crença indispensável do maçon no Grande Arquitecto do Universo, em Deus, no Deus da sua religião, força espiritual de que tudo deriva. Assim, se para o maçon católico a Graça da Salvação está em Cristo, tal verdade não contraria qualquer princípio da maçonaria que impõe a seus adeptos respeito às religiões, estimulando-os à mais absoluta fidelidade à fé que abraçam.

Embora não tenha se manifestado a favor ou contra, o Vaticano está informado sobre os encontros, que continuam a ser realizados em Porto Alegre, e manifestou que o assunto é da alçada das autoridades religiosas brasileiras; a documentação vai sendo arquivada numa pasta denominada “Assuntos da Maçonaria”.

Em 1984 aparece um novo Código de Leis Canónicas, a “Sacrae Disciplinaes Legis“, caindo a quantidade total de artigos de 2412 para 1728. Este novo Código expurga a excomunhão aos maçons mas, a Sacra-Congretatio Fidelis, através do seu Prefeito, Cardeal Ratzinger esclarece que “os fiéis que pertencem as associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da sagrada comunhão”.

O Brasil é o país onde mais tem acontecido maior quantidade de encontros de bom relacionamento entre a Igreja e a Maçonaria, pois são inúmeras as vezes que palestrantes convidados por Lojas maçónicas no país todo, têm sido prelados da Igreja, demonstrando que a maçonaria brasileira é essencialmente cristã.

Resumindo, a posição oficial da Igreja Católica pouco tem mudado com respeito à Maçonaria, mas tem crescido, dentro do corpo dela, a quantidade de membros da Igreja Católica que se relacionam com a Maçonaria de forma amigável e trabalham em conjunto com ela na solução dos problemas de suas comunidades.

Outras Igrejas

Após análise da história do relacionamento entre a Maçonaria e a Igreja Católica, chega-se a conclusão que, de todas as Igrejas que tem dominado o pensamento religioso no mundo, quase a única que tem desenvolvido uma invariável perseguição contra a Maçonaria tem sido a Igreja Católica. As outras Igrejas, incluindo aquelas em que está dividido o cristianismo, têm mantido um relacionamento marcado pelo respeito e, até certo ponto, pela amizade e isto é tão verdadeiro que quando o Papa João XXIII pretendeu atrair os outros irmãos chamados por ele de “irmãos separados” descobriu que muitos dos pastores e fiéis destas Igrejas cristãs eram irmãos. Unir a Igreja Católica com essas Igrejas com maçons dentro delas, contrariava toda uma história de perseguições. E se através desses pastores “irmãos” a Maçonaria se “infiltrar” dentro da Igreja Católica? Outro dado interessante é que nos países onde a Maçonaria tem alcançado um maior desenvolvimento, Inglaterra, Canadá e USA, a Igreja Católica é minoritária, sem influência sobre o Estado ou sobre a consciência do povo.

Uma das poucas excepções é a seita dos Santos dos Últimos Dias, ou os Mórmons, que mantém uma posição anti-maçónica extremada, proibindo os seus adeptos de pertencerem à Ordem.

Também grupos protestantes minoritários de USA, especialmente das denominadas igrejas neo-pentecostais desenvolvem hoje em dia uma campanha em contra da maçonaria acusando-a de :

  • manter duas organizações, uma invisível e outra invisível para fins de dominação inconfessáveis,
  • criação de uma religião mundial dominada pela maçonaria,
  • manter ligações com a feitiçaria,
  • adorar a Lúcifer como a encarnação da Luz,
  • considerar a serpente (Kundalini) como o Salvador do Mundo,
  • adoração do acto sexual (provavelmente refere-se ao Ponto dentro do Círculo)
  • ensinar que o homem pode atingir a divindade
  • derivar dos Cavalheiros Templários, que eram adoradores de Satanás, etc

No Islão existe uma reacção quase geral contra a Maçonaria. Quando foi emitida a primeira excomunhão dos maçons pelo Papa Clemente XII, foi apoiada pelos Ulemas (teologistas islamitas) com o argumento de que “se o Papa declara que os maçons são ateus, algo de verdade deve existir”, o que acabou influenciando o Sultão Mahmud I para proibir a Maçonaria nos países árabes.

A excepção são Líbano e Marrocos, incluindo-se também as lojas militares que existem nas bases norte-americanas sediadas nos países árabes. Em 1973 a Alta Corte de Casablanca determinou que a Maçonaria é compatível com o Islão. Na Turquia existe uma Grande Loja reconhecida e consagrada pela Grande Loja da Escócia, tal como no Egipto, que por sua vez tem tido períodos regulares e irregulares através da sua história.

Adaptado de Artigo do I:. Omar CARTES (Loja Guatimozín 66) – Grande Loja Maçónica do Estado de São Paulo, Brasil

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