A Maçonaria a Preto e a Branco

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Faço hoje pela primeira vez uso da palavra em Loja. Como tal a leitura desta prancha reveste-se de um significado especial.

Quando um maçon usa ritualmente da palavra em Loja, fá-lo a bem da Ordem.

Como tal deve sempre ponderar as razões que o determinam, o significado e a intenção que o move. A sua intenção deve ser recta, inspirada por verdadeiros sentimentos altruístas. Mas, para além dos cuidados relacionados com o uso da palavra em Loja, existem outros aspectos reveladores da forma cuidada como o maçon se deve comportar. A postura de um maçon em Loja, procurando desenhar com a totalidade do seu corpo linhas rectas perpendiculares que formam entre si ângulos rectos, exprime o trabalho de aperfeiçoamento permanente a que se sujeita, concretizado no domínio de si próprio e, das suas paixões.

Tal simbologia encontra-se igualmente presente a quando da cerimónia de Iniciação o candidato a maçon é convidado a desbastar/trabalhar a pedra bruta, momento simbólico a partir do qual o seu trabalho de aperfeiçoamento jamais cessará, estando a perfeição simbolizada na pedra cúbica.

A Maçonaria é uma fraternidade de homens bons que desejam ainda ser melhores. Esta preocupação de virtude esteve desde sempre presente.

Os estatutos dos pedreiros da Idade Média que edificaram a catedral de Estrasburgo referem no seu Artigo 65: O Aprendiz que queira chegar a Companheiro é proposto por um Mestre, que como padrinho, dá testemunho da sua vida e dos seus costumes. Os Artigos 16 e 17 referem: Todos aqueles que não cumpram os deveres da sua religião, que levem uma vida libertina ou pouco cristã ou que sejam reconhecidos como infieis às suas esposas não podem ser admitidos na sociedade ou são expulsos dela, com proibição a todo o irmão Mestre ou Companheiro de ter algum contacto com eles. Os Artigos 23 e 24 estipulam: Cada loja tem uma caixa: aí se coloca o dinheiro que os Mestres e Companheiros dão a quando da sua recepção. Este dinheiro destina-se a ser utilizado a acorrer a necessidades de irmãos pobres ou doentes.

Os estatutos de Ratisbona datados de 1459, mencionam seu Artigo 35, para além da hierárquia corporativa de Mestres, Companheiros e Aprendizes, que para se entrar na corporação é necessário se ter nascido livre e ser de bons costumes, não devendo o maçon viver em concubinato ou entregar-se ao jogo.

A Loja possui pavimento mosaico formado por lages quadradas justapostas, que se alternam em cores branca e preta.

Estas lages, com a sua particular disposição, e com a alternância de cores entre o branco e o preto, possuem vários simbolismos associados.

Numa primeira abordagem, o pavimento mosaico formado por pedras brancas e pretas, que são unidas por um mesmo cimento, que simboliza a união de todos os maçons do Mundo, apesar das diferenças de côr, de opinião política e religiosa. São uma imagem do Bem e do Mal onde é semeado o caminho da Vida.

Atribui-se geralmente ao branco o significado de “Bem” e ao preto o do “Mal”. Será mais justo dizer “Espiritual” e “Material”. Por “Material” poderemos considerar tudo o que se relaciona com o Homem animal e, por “Espiritual”, pelo contrário, tudo o que tende a libertar o Homem da teia material/materialista.

No pavimento mosaico podemos encontrar de outra forma as Trevas e a Luz ligadas. Elas são tecidas em conjunto se considerarmos as placas ordenadas. Mas, as linhas virtuais que as separam formam um caminho rectilíneo, tendo o branco e o preto tanto à direita como à esquerda. Estas linhas são a via do Iniciado que não deve rejeitar a moral comum mas, elevar-se acima dela mantendo uma busca incessante de um comportamento ético. Estas linhas não são visíveis aos olhos dos profanos. Eles não veêm mais do que as placas brancas e pretas, e por consequência a via larga, a via exotérica. Na sua caminhada passam alternadamente do branco ao preto e do preto ao branco. Têm então, à sua direita e à sua esquerda, à sua frente e atrás de si uma côr oposta à sua. Assim, encontram-se perante múltiplas oposições que se formam sob os seus passos.

O Iniciado, pelo contrário, segue a via esotérica, a via estreita, mais fina que o fio de uma lâmina e, passa entre o branco e o preto que, desta forma não constituem um obstáculo à sua caminhada.

O Maçon foi antes da sua Iniciação um profano que caminhou das Trevas para a Luz.

É um homem que na sua existência terrestre e na sua dimensão humana sente a dimensão do Dia e da Noite.

É um homem que tem uma consciência plena da sua natureza, material e espiritual.

O Maçon conhece o Bem e o Mal e, procura através do seu discernimento se relacionar com todos que lhe estão mais próximos de uma forma fraterna, justa e solidária. Vive plenamente esta dinâmica dualista, esta interacção de opostos, prosseguindo a sua via iniciática, caminhando entre o branco e o preto, exercendo plenamente o seu livre arbítrio.

Tal existe, sem dúvida, em todas as dimensões em que o Maçon está presente. Seja a nível pessoal, familiar, social ou profissional, a forma como fala, actua e se manifesta, poderá ser, sem dúvida, a presença da Luz no Mundo.

Que o Grande Arquitecto do Universo nos ajude na nossa caminhada, na construção interior do nosso Templo, a sermos Luz no Mundo.

Autor não Identificado

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