Loja Justa e Perfeita

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Venerável Mestre e todos os meus Irmãos nos vossos Graus e Qualidades, agradeço a palavra e solicito a vossa paciência.

O tema de hoje é assunto recorrente em inúmeras questões feitas por vários Irmãos e tem aparecido com maior ou menor frequência ao longo dos tempos.

Durante bastante tempo limitei-me a responder conforme estava escrito sem grandes elucubrações nem explicações.

Há uns tempos, anos, que comecei a pensar que talvez este assunto merecesse reflexão e cheguei inclusivamente a propor uma alteração regulamentar quanto ao processo constitutivo de novas lojas, que no entanto não foi aceite. Também não voltei a propor a dita alteração em anos subsequentes.

No entanto o assunto ficou latente. As abordagens históricas não me convencendo porque nenhuma me respondia ao que queria.

Há umas semanas nas minhas deambulações pelos vários sites maçónicos encontrei a seguinte afirmação:

O candidato deve ser recebido numa Loja justa, perfeita e regular. Para que uma Loja seja Justa e Perfeita, é preciso que três a governem, cinco a componham e sete a completem” – in Brasil Maçon a propósito do R:.E:.A:.A:.

Ora aqui estava num pequeno detalhe a peça que me faltava e que procurava.

Fui ao catecismo do ritual de primeiro grau publicado pela G:.L:.L:.P:. e encontrei a seguinte entrada:

Três a dirigem; cinco a iluminam; sete a tornam justa e perfeita“. In Catecismo de 1º Grau ritual da G:.L:.L:.P:..

Creio que a nossa passagem pela Maçonaria deve, servindo para muitas coisas, assentar em duas e que são o nosso crescimento individual e a nossa contribuição para o crescimento da ordem.

A minha proposta de alteração aos regulamentos assentava numa alteração de fundo ao conceito, que na G:.L:.L:.P:., preside à determinação do numero de Irmãos mínimo para constituir uma nova Loja, e logo por analogia determinar o quórum necessário para que uma sessão decorra “Justa e Perfeita”

Ao ler o que os nossos Irmãos de Além Atlântico escreveram, percebi que finalmente tinha encontrado a ponta do fio do novelo que me permitia sustentar a minha posição.

Analisemos primeiro o Regular

Uma loja é regular se cumprir os landmarks e se estiver filiada numa Grande Loja ou Grande Oriente reconhecido como pertencente à Maçonaria Regular Universal, de acordo com os critérios fixados pela U:.G:.L:.E:. e aceites pelas Grandes Lojas Americanas e Europeias.

Pode-se disputar o critério da U:.G:.L:.E:., mas genericamente a regularidade incide, para além dos pontos acima, na masculinidade, na inexistência de relações formais com Lojas que admitam mulheres, na presença do VLS:. em Loja e na necessidade de que todos os juramentos sejam em cima dele feitos.

A Loja Justa e Perfeita

Aparentemente temos a mesma afirmação perante nós. Mas não.

Na versão G:.L:.L:.P:. e aquela que temos vindo a usar 7 mestres chegariam.

V:.M:.; 1º VIG:.; 2º VIG:.; Secretario; Orador; e mais dois por exemplo o Hospitaleiro e o Tesoureiro, ou será que é melhor Tesoureiro e Organista, ou mesmo Organista e Guarda Interno.

Na outra versão, a do Brasil Maçon, o que lemos é diametralmente oposto.

3 a Governam, 5 a componham e 7 a completem

Sete a Completem, assim sendo é minha opinião que o numero indicado aqui é de 12 e não 7, isto é aos 5 que a compõem terão que juntar-se mais sete para a completarem, somando a tal dúzia.

A realidade dos vários ritos:

O R:.E:.A:.A:. é um dos ritos mais “económico” em termos de preenchimento de cargos de Loja, necessitando de 11 mestres para as 11 funções activas e que são:

V:.M:.; 1ºVig:.; 2ºVig:.; Secretario; Orador; Mestre de Cerimonias; Experto; Hospitaleiro; Guarda Interno; Tesoureiro; Organista.

O Rito Escocês Rectificado se contarmos com o Past Master, cargo a preencher obrigatoriamente são também necessários 11 Mestres.

Nos ritos de York e Emulação são 14 os Mestres necessários para preencher as funções, mas são menos os necessários para funcionar, podendo serem realizadas iniciações com cerca de 9/10 Mestres.

Mas centrando a conversa no R:.E:.A:.A:., e partindo do principio que o mínimo que se possa aceitar para por uma sessão em funcionamento é o preenchimento das funções que actuam nas iniciações, então são sempre necessários 11 Mestres.

Mas o numero é 12 fica portanto a faltar 1.

Antes de chegarmos ao 1 importa fazer aqui uma pequena dissertação sobre outro assunto conexo.

O que acontece actualmente

O modus operandi que vai sendo usado para “facilitar” é o de prescindir do Hospitaleiro e por o Experto a acumular, é o de prescindir do Tesoureiro, e mesmo em algumas situações recorrer a companheiros para assegurar a função de Guarda Interno e/ou Organista.

Ora se esta facilidade, assente na incorrecta concepção de números mínimos que os nossos rituais indicam, em minha opinião, e cuja alteração ainda não foi possível de ser efectuada, tem vindo a permitir algumas lojas mais recentes ou saídas de crises de reunirem, creio que deverá ser invocada apenas em casos de força maior por Lojas estabilizadas.

O uso continuado desta facilidade, nas lojas estabilizadas, mascara outras realidades, nomeadamente a da parca assiduidade. É minha opinião que um golpe forte como seja o determinar que uma sessão não se realiza por falta de quórum, mesmo que com companheiros e com acumulações se conseguisse lá chegar, é muito mais profícuo para a Loja que tapar o Sol com uma peneira.

Um sinal de alerta destes levaria seguramente ao debate interno, e do debate nasceriam seguramente soluções, que se esperariam estruturais e não conjunturais.

Por outro lado este debate pode ser lançado não como reacção mas como acção, como um tema pró activo, e creio que desta forma seria muito menos denso e mais produtivo. Ou seja antes que aconteça a não realização de uma sessão, o tema deverá ser abordado e debatido, exactamente para que não aconteça esse percalço.

E sobre o tema conexo, deixo a palavra.

Voltando ao tema principal, dizia acima que faltava 1.

Sobre o 1 e dando cumprimento a tradições maçónicas apresento 3 possibilidades.

Esotericamente:

O G:.A:.D:.U:. é 1 e omnipresente logo completaria a Loja, e não deixa de ser verdade pois todos os nossos trabalhos são realizados à sua glória.

Organicamente:

O Antigo Venerável imediato seria esse 1.

Simbolicamente:

Um aprendiz.

Sendo que todas satisfazem a equação, fica no entanto a minha preferência para a terceira opção, e passo a explicar.

O Aprendiz representa a continuidade. Sem continuidade não há Orgânica e sem Orgânica não se pode trabalhar à G:.D:.G:.A:.D:.U:., pois a loja fechou.

A Loja Justa e Perfeita (epilogo)

Uma loja é um organismo muito mais complexo do que aparenta ser, e não pode ser visto de forma leve. Tem que ser pensada, estruturada e sobretudo vivida. Viver uma Loja é investir nela para dela retirar a possibilidade de aperfeiçoamento que a maçonaria proporciona aos seus membros.

Os Irmãos que constituem uma Loja têm uma pequena responsabilidade para com os que os precederam e uma enorme responsabilidade para com os que os seguirem. Sendo a Maçonaria intemporal e logo o maior peso deve ser o futuro.

O que me faz entrar num outro ponto de vital importância para que uma loja seja Justa e Perfeita.

Não chega que estejam lá 7 ou 9 ou 12 ou mesmo 25 mestres e que todos estejam presentes. É necessário compromisso para com a Loja. Compromisso que começa na assiduidade, mas que se complementa com a participação e com a intervenção. Não chega pensar que o outro faz, é preciso fazer com o outro.

Aceitar um cargo ou uma tarefa deve ser um acto consciente de serviço com a atitude de fazer melhor que o que for possível fazer, de chegar e trazer sugestões, alternativas, melhoramentos, porque chegar é insuficiente.

Todos temos os nossos afazeres profanos, e todos temos que tirar tempo de algum sítio para podermos estar aqui, mas não é só estar aqui fisicamente mas também trabalhar para a Maçonaria, e isso só acontece se tirarmos mais um pouco de tempo para em nossas casas pensarmos prepararmos trabalho.

Somos nós hoje o repositório da memória das gerações passadas, temos que permitir que gerações futuras sejam por sua vez o repositório das nossas memórias.

Por isso não segui uma abordagem histórica deste assunto, mas sim uma abordagem pessoal e virada para a criação de mecanismos que permitam a continuidade em melhor estado e desempenho da Maçonaria.

Concluindo, uma Loja Justa e Perfeita é muito mais que o numero de Irmãos que estão numa determinada sessão. Isso seria reduzir a Loja a uma sessão, e se assim fosse seria mais coerente fechar a Loja e desistir do sonho.

Está nas mãos de cada um o destino do sonho individual é certo, mas está também nas mãos de cada um o destino do sonho colectivo dos Irmãos que se reuniram para formar uma qualquer loja.

Feito À G:.D:.G:.A:.D:.U:.

a Oriente de Lisboa aos 2 dias do mês de Março de 6009 E:.M:.

Correspondente a

Lisboa, 2 de Março de 2009

José Ruah – M:.M:. da R:.L:.M:.A:.D:. nº 5 da G:.L:.L:.P:.

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