Câmara de Reflexão

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CÂMARA DE REFLEXÃO

A Câmara de Reflexão constitui um lugar de culto, fora do conhecimento dos profanos, cuidadosamente “disfarçada”, com entrada “secreta”, de diminuto tamanho, imitando, quanto possível o “ventre da terra”, uma “gruta” ou “túmulo”.

De grosso modo, podemos descrevê-la como um recinto cujas paredes e tecto são pintados de negro; há uma mesa e um banco; sobre a mesa está uma vela acesa, uma imagem do um galo, uma caveira, uma ampulheta, um recipiente com mercúrio, enxofre e sal, uma pena, um tinteiro e papel mata-borrão e papeis para serem preenchidos; nas paredes têm inscrições alusivas ao acto, nomeadamente V.I.T.R.O.L.

Paredes negras – simbolizam uma gruta, local de refúgio, de meditação.

Vela – representa o princípio vital, pois o fogo e a luz são elementos indispensáveis à vida.

Imagem de um galo – É a ave que simboliza a Vigilância e o despertar para uma nova vida.

Palavra V.I.T.R.I.O.L. – Visita Interiora Terrae, Rectificando que Invenies Occultum Lapidem – desce ao interior da terra e, rectificando, encontrarás a pedra oculta.

  • Desce ao interior da terra – significa a estada na Câmara de Reflexão;
  • Rectificando – ajustar à mente a nova situação de quem está para deixar a vida para renascer;
  • Pedra oculta – significa desvendamento dos segredos da Iniciação.

Caveira – símbolo da morte material, é usado para demonstrar a igualdade de todos os seres humanos e a necessidade de cada um se despir da vaidade que a nada conduz, pois surpreendido alguém pela Morte, nada poderá levar consigo, no aspecto material, nem sequer a sua mente. A sua consciência, os sentimentos de amor, e tudo isso conduz á aceitação que esses valores não são materiais, mas espirituais. Conduz à meditação sensata de que a matéria é ilusória.

Espelho – ?

Ampulheta – serve para lembrar que o tempo é fugidio e que não retorna, que é fatal. Esses momentos de meditação fazem do candidato um futuro maçon convicto de que deve usar o “seu tempo” de modo digno, útil, para não desperdiçá-lo, porque não o haverá jamais de recuperar.

3 Recipientes com:

  • Mercúrio – símbolo de purificação
  • Enxofre
  • Sal – é o elemento que dá sabor aos alimentos, filosoficamente, o homem é o Sal da Terra, ou seja, o elemento que dá “sabor” à Criação

Uma pena, um tinteiro e papel mata-borrão – servem para escrever o testamento.

Testamento – é a prova para observar se o candidato tem desprendimento quanto aos seus bens.

A primeira parte da iniciação é desenvolvida na Câmara de Reflexão que por esse motivo assume grande relevância. Ninguém poderá ser regularmente iniciado se não passar um determinado tempo dentro da Câmara.

O profano é introduzido, devidamente vendado, no recinto, fechada a porta, no interior não chega qualquer rumor.

Convence-se de que retornou ao “ventre materno” e, portanto, deverá “renascer” para novas oportunidades e novas compreensões, pois foi-lhe dito que a Maçonaria é a porta adequada a uma nova filosofia de vida.

A estada na Câmara de Reflexão é o momento maior da Iniciação, pois, quando entrar no Templo, o fará como recém-nascido dependente de tudo e de todos.

O silêncio “sepulcral” conduz à meditação; o odor de mofo, cercado de símbolos mortuários, dá consciência de que há-de chegar a sua vez mais cedo ou tarde, eis que é um ser humano; como enfrentará o derradeiro momento da vida? Como será a sua passagem para o mundo desconhecido e misterioso de que ouviu falar?

Na Câmara de Reflexão senti que algo de estranho iria acontecer; entreguei-me totalmente a essa aventura mística e embora soubesse que ao meu redor tudo é símbolo, senti que também era um símbolo. Estar dentro de um sistema de símbolos, talvez a morte também será um símbolo, e a “passagem” não seja tão dolorosa como todos imaginam.

Após um período de reflexão, fui solicitado a dispor da minha última vontade. A resposta ao questionário solicitado veria a ser o meu “Testamento”.

Fiquei esperançoso porque vislumbrei que estava prestes a ingressar numa Instituição que me vai responder a tantas perguntas.

O profano sabe, então que quando sair daquele “túmulo”, estará “renascendo”, pois naquele túmulo deixa todas as suas ilusões e todos os seus “metais”.

Aprendi em alguns instantes a desprezar a matéria e valorizar o que é espiritual.

Após o período de reflexão, abre-se a porta e fui preparado para a cerimónia de iniciação sob o sinal de sinceridade e fraqueza, sob o sentimento de humildade e sob o sinal de respeito; foi colocada uma corda á volta do pescoço e de novo vendado, tomado pela mão direita fui conduzido para a porta do templo.

Todo este ritual me pareceu mais uma vez estranho. Estava a ser conduzido para um local totalmente novo e sem saber o que se iria passar.

Sabia sim que tinha “morrido” e que em breve iria “renascer”.

Senti-me totalmente desprotegido, mas confiante que iria estar protegido.

Todo o maçon deveria, pelo menos uma vez em cada grau, retomar à Câmara de Reflexão para um exame de consciência e alertar-se de que, na realidade, é maçon.

Todo o maçon possui, em si, um templo, mas ao mesmo tempo um túmulo e também uma gruta.

O recolhimento espiritual, por outro lado, é um dom; há os que com facilidade entram nesse seu interior, como há os que têm dificuldade para isso; A meditação, também, é um dom, pois leva a situação mental de tamanha amplitude que todos os problemas que surgem encontram solução.

O maçon que medita não cairá nem em tentação nem no infortúnio.

N:. L:. – A:. M:.

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1 Response

  1. Adriana pinheiro da silva diz:

    Muito obrigada ! Lendo sobre o ritual , finalmente consegui externar o que senti na minha iniciação.

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