Aprendiz em Loja
APRENDIZ EM LOJA
V:. M:., queridos I:. em todos os vossos Graus e Qualidades,
De uma maneira geral todos nascemos com 5 sentidos. À partida uns mais apurados do que outros, eles vão-se especializando. Estes sentidos servem-nos de fonte de informação e permitem-nos experimentar e testar, caso o queiramos, todas as hipóteses. Por uma questão de preguiça, o nosso organismo, mais especificamente o nosso cérebro, tende a privilegiar a visão como o sentido mais importante. É difícil imaginarmo-nos sem esta capacidade. Como descreveríamos os objectos que nos rodeiam, a aurora ou o por do sol, o Outono ou a Primavera, um sorriso ou aquela expressão de um nosso filho. O G:.A:.D:.U:. foi generoso para connosco deu-nos 5 formas diferentes de experimentar e absorver informação, e apenas uma para a transmitir, como que a dizer experimentem; observem, ouçam, cheirem, toquem, degustem, enfim, sintam, e depois, com cuidado e nesta proporção, digam o que sentiram, comuniquem. Por um lado esta proporção deveria tornar a comunicação humilde, simples e objectiva, por outro a sua unicidade torna-a especial e, se usada de uma forma séria e honesta, de coração aberto, eleva-nos a outra condição. Podemos comunicar das mais diversas formas, falando, escrevendo, através de uma expressão ou de um olhar, de um gesto ou postura corporal, mas com cuidado e ponderação, pois uma palavra depois de proferida nunca se recupera.
É assim que vejo a experiência iniciática do candidato a A:.M:.. Somos privados da preguiça da visão para, realmente, sentirmos a iniciação, para escutarmos, exactamente, o que nos é dito e não apenas para que vejamos os lábios do nosso interlocutor mexerem-se sem interpretarmos o que, verdadeiramente, nos dizem e com o que, seriamente, nos comprometem. É-nos dada a palavra apenas para, humildemente, respondermos a questões simples e objectivas de uma forma séria e honesta, para que, por fim, nos seja revelada a luz e, então, passemos à condição de A:.M:. .
A partir deste momento abrem-se, para o A:.M:., vários caminhos não só para o conhecimento como cultura ou conhecimento exterior, mas, também, para o conhecimento místico ou interior e, lado a lado, passo a passo, grau a grau, dá-se a evolução. Esta evolução, que não é mais do que, simbolicamente, o trabalho da Pedra Bruta com os utensílios, também, simbólicos do A:.M:..
Praticamente tudo o que aprendi, porque não posso e não devo dizer que sei, sobre a maçonaria, foi-me transmitido, após a minha iniciação, pelos meus I:. M:. desta e de outras R:.L:.. Creio que mais do que nos livros se aprende pela prática, não só da verbalização dos ensinamentos escritos, como também pela actuação própria, e, ainda pela observação do exemplo correcto. Lucius Annaeus Séneca, filósofo e escritor da Roma Antiga, que morreu no ano 4 aC, disse: “A virtude é difícil de se manifestar, precisa de alguém para orientá-la e dirigi-la. Mas os vícios são aprendidos sem mestre.“
Quando o I:.S:. faz a chamada dos obreiros e respondemos, ou por nós respondem, “Em loja.“, quer dizer que, se não foi antes, pelo menos a partir daquele momento, estamos em loja com todos os nossos sentidos despertos, pois estão abertos os trabalhos. Assim se vai descobrindo a simbologia do Templo,
O Templo Maçónico, que apenas a partir de 1776, com a construção do Fremason’s Hall, em Inglaterra passou a ter um local fixo, uma vez que nos primórdios da maçonaria as reuniões eram realizadas sem localização específica, muitas vezes ao ar livre, é baseado no Templo de Salomão, que desta maneira adquire uma dimensão espiritual. Tem a forma de um plano rectangular, resultado da justaposição de três quadrados perfeitos. De qualquer ponto da terra, livre dentro do próprio planeta e como que suspenso no espaço da esfera celeste, pois conforme diz o Ritual, o seu comprimento é do Oriente ao Ocidente; a sua altura é da terra ao Céu; a sua largura é do Sul ao Norte; a sua profundidade é da superfície ao fundo da terra. Tudo isso para nos dizer que a Maçonaria é Universal e o Universo, um verdadeiro templo.
À entrada do Templo, no Ocidente, está a Coluna “B” (Boaz) e outra coluna. Boaz tem vários significados e interpretações, mas o principal significa a Força e simboliza o grupo de A:. A:.. No topo das colunas devem estar três romãs entreabertas. As romãs representam prosperidade e solidariedade das Lojas, pela afinidade de seus grãos, e a união de toda a família maçónica, com o exemplo de fraternidade deve servir a toda a humanidade. As romãs são símbolos da harmonia social, imagem do povo maçónico, com as sementes (irmãos) apoiadas umas nas outras para que o fruto forme o seu invólucro (Loja).
De ambos os lados as Colunas do Norte e do Sul, referem-se às alas onde tomam lugar os I:..
A Oriente, o altar onde tem lugar o V:.M:., ocupando o Trono de Salomão, que aí tem lugar para abrir a loja, dirigi-la e esclarecê-la com as luzes da Sabedoria. As Três Grandes Luzes Emblemáticas da Maçonaria são o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso; e as três Luzes da Oficina são o Venerável Mestre e os Vigilantes.
Ao centro da Loja os Pilares Jónico, Dórico e Coríntio. Que simbolizam, Sabedoria, Força e Beleza.
“A SABEDORIA CRIA, A FORÇA SUSTENTA E A BELEZA ADORNA.
SEM ESTES ATRIBUTOS NADA É PERFEITO E DURÁVEL NO UNIVERSO.”
A Sabedoria para nos guiar em todos os feitos, a Força para nos sustentar em todas as nossas dificuldades e a Beleza para ornamentar ou adornar o homem interno. Deve existir um quarto Pilar, no canto Norte, mas esse Pilar é virtual, e representa a Inteligência Suprema, por isso não aparece, nem pode ser materialmente representado.
A localização simbólica do Templo situa-se numa faixa entre os trópicos de Câncer e Capricórnio. A coluna B representa o Trópico de Capricórnio. A orientação da Loja de Oriente para Ocidente baseia-se na mesma orientação dada inicialmente ao Tabernáculo de Moisés que foi o primeiro local destinado exclusivamente ao Culto Divino, e que recebeu a Arca da Aliança e as Tábuas da Lei.
Neste ambiente o A:.M:. é convidado a caminhar na perseguição da Sabedoria e dos “Segredos Maçónicos”. Os três anos do Aprendiz e as três viagens da iniciação são símbolo do tríplice período que marcará as etapas do seu estudo e progresso, onde a matéria ainda domina sobre o espírito. Os três anos referem-se às três primeiras artes da Antiguidade: a Gramática, a Lógica e a Retórica; pois o estudo destas artes dará ao Aprendiz o poder do Verbo.
Para isso deverá usar os, também simbólicos, utensílios: o Maço ou Malho e o Cinzel. O Maço ou Malho representa a inteligência e o Cinzel a razão. O Maço e o Cinzel sempre trabalham juntos para desbastar a Pedra Bruta. A habilidade no uso do maço e do cinzel representa que a inteligência só tem valor se empregada com a razão, o que faz o homem saber discernir entre o Bem e o Mal; e que o trabalho é uma obrigação do homem. Rousseau disse que “Todo o homem nasce bom e puro, a sociedade é que o corrompe“. Eu creio precisamente no contrário, todo o homem é intrinsecamente mau e cruel, a sociedade é que o educa. A nossa educação começa com os nossos pais, familiares e amigos e pode seguir, através dos valores que adquirimos, não necessariamente através daqueles que nos são transmitidos, vários caminhos e, por fim, resultar nas mais diversas personalidades. A maçonaria representa, para mim, a sublimação desta função educativa da sociedade.
Desgastar a Pedra Bruta significa transformar o ser que nascemos, através dos valores espirituais, do culto da sabedoria, da força e beleza interiores, através do trabalho árduo coordenado pela inteligência e pela razão, através da humildade de nos deixarmos guiar pelos mestres, ouvindo sem podermos manifestar-nos, sendo tolerantes para com os outros, num ser capaz, não só de discernir entre o Bem e o Mal, mas, também, capaz de optar pelo Bem em vez do Mal.
Apesar de não gostar de fazer muitas citações, já fiz duas em tão pouco texto, termino com mais uma de um autor que sempre apreciei, o nosso irmão Voltaire, e que caracteriza bem a maçonaria e em especial a nossa Loja:
“Acontece com os livros o mesmo que com os homens, um pequeno grupo, desempenha um grande papel.“
Disse, Venerável Mestre e todos os meus Irmãos!
N:. L:. Albuquerque – A:.M:. – R:.L:.M:.A:.D:.
Maio de 2005