A Imortalidade

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Mosteiro da Batalha - Sala do Capítulo

Mosteiro da Batalha – Sala do Capítulo

Este excerto foi retirado do livro de reflexões de Mestre Affonso Domingues. O livro foi encontrado num esconderijo secreto da Sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha, por baixo de uma pedra… “quase” cúbica.

“De todos os mistérios que existem, o que mais questões me suscita é o da vida após a morte. Frei Lourenço Lampreia já me tinha falado uma vez acerca desses mistérios. Ensinou-me que existe o Paraíso, o Purgatório e o Inferno. Os pecadores vão para o Inferno. Mas aqueles que ainda necessitam da purificação dos pecados ficam no purgatório a aguardar pela purificação.

Agora que estou a aguardar que a Casa do Capítulo se mostre suficientemente FORTE para não desabar, sinto o corpo a fraquejar e os sentidos menos aguçados. Já passei a minha SABEDORIA às pedras desta magnifica construção e ao próximo Mestre desta obra, Martim Vasques. O espírito, esse, está aqui no Mosteiro, FORTE e Saudável. Esse vai mostrar de que é feita esta nação e de como foi ganha aquela batalha. A alma encontra-se cada vez mais junto da BELEZA da criação de Deus.

O meu grande Mestre, o João, ensinou-me que todos nós Pedreiros temos uma estrela que ilumina os caminhos que escolhemos. Nós não vemos a estrela, mas ela está cá. Á medida que nos tornamos mais velhos e o nosso corpo fraqueja, começamos a senti-la cada vez mais. Penso que seja o pequeno brilho que tenho visto todos os dias, mesmo estando cego. Essa estrela flamejante é aquela que nos proporciona os sentidos quando o corpo morre, pois as faculdades não se podem perder e é dessa forma que a estrela passa a guarda-los, para não se dissiparem. Para nos proporcionar luz e transmitir o que os sentidos deixaram de passar através do corpo.

Um dia o meu Mestre mostrou-ma, quando eu terminei os estudos das artes liberais e das esferas terrestre e celeste. Levou-me para um sítio ermo, sem ninguém. Lá bem por trás, mostrou-me a tal estrela. Lembro-me de ter referido que ela era a guardiã dos nossos 5 sentidos. É ela que os dá os sentidos guardados no seu interior, é ela que os volta a guardar quando o corpo falece; é por ela que o Homem perceciona o mundo e que o fundamenta através das Artes Liberais.

Esta estrela é a estrela do bem, a consciência humana que nos faz perceber quando estamos errados, quando fazemos o bem e de perceber os nossos semelhantes. Todos temos uma estrela flamejante, mas apenas alguns a conseguem sentir. Quem a sentir pode ter a sensação de quando está errado e de corrigir o seu erro, mesmo que á frente de outros. Quanto mais o Homem sentir a sua estrela, mais brilhante ela é e mais sentida é pelos outros. É, por isso, o símbolo da imortalidade pois, quando sentimos a nossa estrela e a dos outros, podemos relembrar a intensidade (FORÇA) do seu brilho e a BELEZA da sua imagem. É nesta conjugação que nasce a SABEDORIA e é ela que nos torna imortais. É por isso que alguns de nós somos constantemente relembrados. Esta é uma das muitas formas de nos imortalizarmos. A estrela é a individualidade e a vida.

Se unirmos as pontas da estrela temos um pentágono; se prolongarmos esse pentágono formando um ataúde, no qual se insere a estrela, temos um caixão. Assim podemos inferir que: “a estrela, indica que a morte é indispensável à vida e que toda a morte contém em si uma promessa de vida” [1].

Um dia, durante a Batalha, também a senti, em D. Nuno, O Condestável. Aquela foi a estrela que nos guiou em Aljubarrota e que agora justifica a construção deste Mosteiro.

Estou cansado. Vou dormir. Amanhã terminará a prova a que me submeti. A prova a que submeti o teto da Sala do Capítulo. Desta vez o teto não cairá”

Terminada a narrativa da lenda de Mestre Affonso Domingues, continuemos:

Existe uma lenda Mexicana que diz que enquanto os nossos antepassados forem lembrados, que vão vivendo noutra dimensão e que voltam no denominado “Dia dos Mortos” para nos visitar. Quando nos esquecermos deles, ou por não terem sido boas pessoas, ou apenas por não os termos conhecido, eles vão desaparecendo até à extinção total.

Embora na Europa tenhamos uma cultura um pouco diferente da cultura da América Central, de certa forma, acabamos por ter algumas semelhanças. Não é por acaso que contamos histórias e lendas de antepassados nossos e que as histórias heróicas contadas por Homero se mantiveram até hoje. Nós gostamos de relembrar os nossos antepassados. Gostamos de relembrar o que aprendemos com eles, os momentos que passámos juntos, o trabalho que eles fizeram enquanto tiveram a vida no seu corpo. No fundo, gostamos de relembrar o brilho da estrela que cada um teve enquanto aqui passou. Já Affonso Domingues dizia na sua última reflexão que era a intensidade do brilho desta estrela que nos tornava mais iluminados de sabedoria e era ela que no fim seria relembrada.

Mestre Affonso Domingues esteve presente na Batalha de Aljubarrota. Foi um guerreiro. Também foi o primeiro arquiteto do Mosteiro da Batalha, tendo terminado a sala do Capítulo, segundo a lenda. Através de Alexandre Herculano foi imortalizado no seu conto “A Abóbada”. Também penso não ser por acaso que o numero da nossa R∴ L∴ é o nº 5, o número de pontas desta tão brilhante estrela e do pentágono; o símbolo da virtude, da luz que todos devem seguir e relembrar. A estrela simboliza os 5 sentidos, ao mesmo tempo que tem inserido o corpo humano. É nesta conjugação que se encontra alma humana que se complementa e explana pela compreensão racional do mundo que nos rodeia.

Um dia o nosso I∴ J. C. mostrou-me um poema do I∴ Luís Miguel Rosa Dias. O nosso Q∴ I∴ J. P. S. mostrou-nos gravações de poemas do já mencionado Rosa Dias e de um trecho tocado pelo I∴ Alexis Botkine com o seu violino. Um dia, num ágape ritual da R∴ L∴ General Correia Barreto um I∴ falou-me que o I∴ Rui Clemente Lelé ∴ (também da nossa R∴ L∴), “daria um grande Grão-Mestre, não tivesse passado ao Oriente Eterno antes de ter essa oportunidade”, referiu o dito I∴.

Todos estes viram a estrela flamejante, tal como Affonso Domingues, e todos nós guardamos e relembramos as suas estrelas ao relembrar as suas histórias. Somos nós que atiçamos o calor das suas estrelas flamejantes para que nunca se perca.

Enquanto relembrarmos as obras daqueles que partiram para o Oriente Eterno, eles serão imortais. Os imortais da R∴ L∴ Mestre Affonso Domingues.

D. G. – C∴ M∴ – R∴ L∴ Mestre Affonso Domingues, nº5 ∴GLLP / GLRP)

Notas

[1] – Em, “A Simbólica Maçónica” de Jules Boucher, pág. 249. ∴

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1 Response

  1. Fernando Almir Nascimento diz:

    Recebi com contentamento a reflexão denominada “A Imortalidade”.
    Li avidamente o texto e me emocionei com a profundidade de seus ensinamentos.
    Estou muito grato pelo compartilhamento de tão magnífico exerto.

    Um fraterno abraço

    Fernando Almir

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