Comunicação do Grão-Mestre por ocasião do equinócio da primavera
Queridos II. em todos os vossos graus e qualidades, a todos saúdo: sede bem-vindos à casa dos valores, à casa dos irmãos, à nossa casa.
Hoje celebramos em Grande Loja um novo equinócio de Primavera. E tal como tenho vindo a instruir, também hoje vos relembro que o vocábulo “equinócio” forma-se a partir de duas palavras latinas: ‘aequus’ que significa ‘igual’ e ‘nox’ que significa noite. Estamos assim, de novo, numa data em que a inclinação da terra e os raios da luz do sol, afiançam idêntica duração dos dias e das noites. Mas num instante, este equilíbrio momentâneo e frágil, irá colapsar, porque iniciaremos hoje a caminhada do aumento dos dias, até que chegue o solstício de Verão!
Por esta razão meus irmãos, em todos os momentos devemos estar alerta para que o desequilíbrio e a desunião não irrompa entre nós, para que a juventude do vigor adolescente da Primavera, não inunde os nossos campos maçónicos apenas de ervas daninhas.
A este respeito, cito-vos um velho camponês mirandês, que todos os anos pelo tempo do equinócio primaveril previne os mais jovens com a sua anciã sabedoria: “por chegar la primavera, nun habemos deixar que todo se buolba an berde, porque todo l que deixarmos tresformar-se an berde, sobretodo las cousas i ls balores mais amportantes, puode siempre benir un burro qualquiera cheno de fame, i pensando que ye yerba: ruobe-los”.
E os maçons já sabem bem do assassinato de Hiram Abif perpetrado por três companheiros desonestos, ciosos de honrarias e poder fácil!
E também todos sabemos da velha máxima atribuída a Júlio César: “à mulher de César não basta ser, terá também que parecer”.
E no fim do século XVI, o maior dos dramaturgos, na sua peça “A tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca”, William Shakespeare, indaga: “To be or not to be, that is the question” “Ser ou não ser, eis a questão”!
Não podemos, portanto, ser maçons e ter comportamentos profanos. Por essa razão, este servo que vos fala, vos indaga amiúde com a seguinte afirmação: as “profanisses” são para os profanos! Nós somos uma ordem iniciática com regras bem definidas.
Fomos todos iniciados maçons, e como maçons nos devemos exclusivamente comportar durante todos os instantes, respeitando sempre a nossa Augusta Ordem, as suas regras e os seus valores.
Mas deixai-me recuar ainda mais atrás que William Shakespeare e que Júlio César, para viajar até ao tempo de Esopo, um escritor da antiga Grécia que viveu nos anos 600 antes de Cristo, para vos contar uma das suas fantásticas e didácticas fábulas, que tem como título:
O pai e os filhos brigões!
“ Certo pai tinha uma família de muitos filhos, que viviam em permanente briga entre si. Já cansado de tentar pôr fim às disputas através de esforço pessoal e muitos conselhos, decidiu mostrar através de um exemplo simples e prático, todos os males que podia acarretar tanta briga e desunião.
Para isso, um dia, pediu aos filhos que fossem à floresta mais próxima e juntassem um feixe de pequenos ramos de árvore. Aportado o dito molho de ramos, colocou-o nas mãos de cada um dos filhos, ordenando-lhe à vez, que cada um deles tentasse quebrar o feixe pelo meio.
Cada um dos filhos, valendo-se de todas as suas forças, bem tentou executar o que o pai lhe ordenou, mas nenhum deles obteve êxito, tendo todos fracassado.
Em seguida, o pai separou do feixe vários dos finos ramos que o compunham, colocando um nas mãos de cada filho, ordenando-lhe para que o tentassem quebrar pelo meio. Os rapazes, um após outro, obedecendo ao pai, mostraram todos como era fácil quebrar o ramo pelo meio.
Perante a evidência, disse aos seus descendentes:
Vede bem meus filhos, se permanecerdes sempre unidos como o feixe destes ramos, ninguém vos poderá quebrar pelo meio, mas se brigarem constantemente e vos mantiverdes desunidos, qualquer um vos poderá aniquilar. Em vez de brigar, ajudai-vos mutuamente uns aos outros meus filhos: contra as dissidências da vida e contra todos os que vos tentarem quebrar. Desunidos, seremos frágeis, unidos seremos fortes e inquebráveis.”
Da mesma forma meus irmãos, se dentro da nossa Augusta Ordem nos mantivermos unidos e coesos, ajudando-nos mutuamente, seremos fortes e robustos, mas se privilegiarmos a intriga e a desunião: seremos apenas frágil sombra de nós mesmos. E nós já falamos aqui tantas vezes do segredo da ‘meligrana’!
Entre este equinócio de Primavera e o próximo solstício de Verão, decorrerão eleições dentro da nossa Augusta Ordem. Apelo a todos os irmãos para que o processo de apresentação de candidaturas decorra com a devida calma e elevação maçónica.
Recordo que em maçonaria não podem existir “campanhas eleitorais”, tal como as que conhecemos dentro do sistema político partidário. Entre nós deve haver: contenção, informação aos irmãos, respeito pelos valores maçónicos, cortesia, educação, e os diferentes opositores, não são adversários entre si, mas apenas irmãos. Existe um ditado popular que diz: “pela aragem, se sabe o que vai na carruagem”. Por isso, na parte que me toca, tudo fazei para haja transparência e para que todos os requisitos e normativas vigentes, sejam estritamente observados e cumpridos. E são estas as garantias que tendes deste vosso servo, para engrandecimento da Nossa Augusta Ordem, e para que neste processo electivo, a aragem da nossa carruagem seja sã, livre e cordial!
Meus irmãos: armai-vos das vossas espadas: não podemos tolerar “maçons profanos” dentro do Templo, cultivando a intriga e a desunião entre nós, desejando apenas o nosso fenecimento e a morte dos valores universais da Maçonaria.
E era esta a mensagem simples que neste equinócio queria partilhar convosco, através da força da palavra e dos valores, e deles imbuídos, continuaremos o nosso caminho unidos e fortes, humildemente, harmoniosamente, assumindo a plenitude universal da Maçonaria, para continuar a consolidação e edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquitecto do Universo.
Lisboa 24 de Março de 6018 (2018)
Júlio Meirinhos
Grão-Mestre