Do valor da parábola

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Quem acompanha este blogue sabe que, com exceção das “alegorias” de (algumas) sextas-feiras, privilegio a publicação de textos originais meus. A recente publicação de “Tive um sonho” e de “O último grau ” é a exceção que conforma a regra. Estes dois textos – que, afinal, são apenas um, apenas dividido, por razões de extensão, em duas publicações no ótimo blogue The Beehive, do excelente sítio Freemason Information – impressionaram-me quando os li e decidi pedir autorização ao seu autor, Irmão Frederic L. Milliken, para os traduzir e publicar aqui no A Partir Pedra, autorização essa aliás pronta e simpaticamente concedida e que eu agradeço.

Duas razões me motivaram ao labor de traduzir e publicar trabalho alheio. A primeira, resultante de uma identificação com a mensagem constante da “palestra” do “último grau”, explico-a neste texto. A segunda ficará para um outro.

Escrevi já várias vezes, a última das quais há não muito tempo (O segredo maçónico esotérico) que o único verdadeiro segredo maçónico, o que importa, o que releva, existe, não porque os maçons o queiram preservar, mas porque não o conseguem revelar. Porque é insuscetível de plena transmissão. Referi, também no mesmo texto, que, em bom rigor, duvido mesmo que haja apenas um verdadeiro segredo maçónico, um único segredo esotérico. Nesta altura do meu entendimento, propendo a considerar que cada maçon atinge a sua própria Luz – a deste com mais brilho, a daquele mais baça, a daqueloutro, qual bruxuleante chama de longínqua vela, mal se vendo -, cada maçon encontra e resgata a sua própria e individual Palavra Perdida – a de um bela e cristalina, a de outro sonora e estentória, a de um terceiro suave e quase inaudível murmúrio. Prossegui concluindo que nessa viagem, nesse trabalho, nessa busca, cada um procura coisa diversa. Eu só posso definir o que neste momento busco. Já me reconciliei – há muito! – com a finitude da vida neste plano de existência, já abandonei, por estulta e estéril, a busca do imenso porquê, a mim nunca me interessou particularmente interrogar-me sobre o cósmico como. Por agora, desde há muito e não sei até quando, concentro-me na busca do sentido da Vida e da Criação. Tenho uma ideia rude e imprecisa desse sentido. Busco o melhor ângulo para obter mais Luz. Espero que consiga obter o Brilho suficiente para, através do sentido da Criação, entrever o Criador… E tudo isto eu – neste momento – busco, em fantástica viagem, sem outro veículo que não eu próprio, não consumindo outro combustível senão tudo aquilo de que me interiormente despojo, sem outro destino e caminho senão o fundo de mim mesmo. Porque é o conhecimento de mim mesmo, em todas as complexas vertentes que condicionam o meu Eu, que me habilitará a conhecer o Outro, o Mundo e quem o criou e porquê e para quê e como. Eu sou a pergunta, a pergunta sem resposta, a pergunta buscando a resposta e, simultaneamente, a resposta contida na própria pergunta, que me levará a nova pergunta, que gerará nova resposta, em contínuo alargar de horizontes, que espero me permita entrever o que está para além do horizonte e contém todos os horizontes…

Percebe-se então facilmente porque me impressionou o trabalho do Irmão Milliken. Nessa busca interior que vou fazendo, a algumas conclusões próprias ia chegando e guardando no meu íntimo e aí as entesourando, por convencimento da minha incapacidade de adequadamente as transmitir. O texto da “palestra do último grau” assemelha-se muito ao meu pensamento e exprime-o muito melhor do que eu seria capaz:

“Diz-se que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Mas eu digo-te que cada homem é uma parte de Deus e possui uma pequena partícula do Altíssimo dentro dele. Que a partícula cresça e se torne uma parte cada vez maior de um ser humano, depende das escolhas que cada um faz na sua viagem pela vida. O objectivo dessa viagem é alimentar e nutrir a sua alma numa missão terrena, para a qual Deus lhe deu as ferramentas para a realizar. Ao fazê-lo, possibilita-se que o Todo Poderoso Criador, o Mestre do Céu e da Terra se experimente a si próprio. Viver a “vida piedosa” é a capacidade de subir acima do que procura dividir e criar o caos.”

“É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS. Quando alguém se afasta ou repudia quem vê como outro, apenas se separa de si mesmo e de onde veio e para quem um dia vai voltar. Quando alguém fere ou prejudica quem vê como outro, só fere ou prejudica a si próprio.”

“A Pirâmide e Globos são o símbolo deste grau, meu irmão. Ensina que toda a vida, os seus altos e baixos, as suas alegrias e tristezas, os seus amores e medos, é uma experiência santa e sagrada. Possibilita que visualizes o conceito de que a vida é sem fim e continua a mover-se, começando onde terminou e terminando onde começou. Vai e volta, em redor e sobre e sempre “na unidade do Espírito Santo.” SOMOS TODOS UM. Não há nenhuma parte de nós que esteja separada ou fora da Pirâmide e Globos. Somos todos pedaços do mesmo bolo. Deus está em nós e nós estamos em Deus. SOMOS TODOS UM! Agora, vai em paz e harmonia e alegra-te com este conhecimento.”

Realmente, há coisas que só as parábolas permitem transmitir!

Rui Bandeira

Publicado no Blog “A partir pedra” em 18 de Março de 2009

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