Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5

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Cada Loja é um mundo particular. No que tem de bom e no que que tem de menos interessante. A Loja Mestre Affonso Domingues não foge à regra. Uma das suas características é que no seu seio tudo (tudo não: religião e política estão excluídas) pode ser debatido. E o nosso conceito de debate inclui, naturalmente, a livre expressão da opinião de cada um de nós de forma franca, aberta e cara-a-cara. O que cada um acha que tem de ser dito, diz. Se se exceder, é chamado à pedra e dá as suas explicações e, se necessário apresenta o seu pedido de desculpas. Mas disse, não guardou dentro de si.

Claro que quem diz sujeita-se a ouvir… Entre nós, portanto, ninguém engana ninguém. Todos dizem o que pensam, ouvem o que têm que ouvir, toda a gente fica a perceber as posições, as razões, os sentimentos, os estados de alma de cada um. E depois chega-se coletivamente a uma conclusão.

Quando há que debater, debate-se. Estejamos sós ou tenhamos visitantes connosco. Às vezes, surprendemos alguma surpresa nos olhos de visitantes… Somos assim, sentimo-nos confortáveis assim, não há razão para escondermos como somos… Poderemos ser acusados de muita coisa. De hipocrisia é que, com justiça, não!

Mas o mesmo visitantre que porventura arregale os ohos ao assistir aos debates entre nós, se (ou quando) nos conhecer bem também percebe outra coisa. Podemos debater, podemos confrontar-nos, podemos resmungar, mas, se alguém de fora tentar pisar os calos a um de nós tem de se haver com todos, juntos e sem fissuras.

Nós debatemos este mundo e o outro. Às vezes, discutimos, resmungamos, desabafamos e atiramos argumentos como petardos. Mas fazemo-lo assim porque podemos. Porque os nosso debates, as nossas querelas, têm subjacente que todos somos irmãos e todos somos iguais. Como os irmãos de sangue, podemos ter brigas sérias, ultrapassadas e esquecidas trinta segundos depois. Porque todos somos iguais e nos consideramos e tratamos efetivamente como irmãos é que podemos esgrimir argumentos como punhais, sem receio de criar situações inultrapassáveis. Falamos francamente – e, por vezes, com dureza – porque reconhecemos aos nossos iguais e irmãos o direito de falarem connosco com igual franqueza e, por vezes, dureza. No final, podemos não concordar todos com tudo (que aborrecimento de Loja que seria…), mas todos ouvimos todos, todos podemos perceber as razões, as motivações, as preocupações, dos outros. Todos nos abrimos perante os demais. Compreendemos os demais e demo-nos a compreender aos demais.

E depois, plácida e naturalmente, formamos a nossa Cadeia de União. E não é nada raro, nem incomum, nem motivo de qualquer espanto, que dois manos que minutos antes bravamente se digladiaram estejam lado a lado dando-se as mãos nessa Cadeia de União e, juntos, participem no momento de reflexão e comunhão coletiva.

E também não é nada raro que, no pico de uma acesa troca de argumentos, alguém largue uma piada e todos – trocadores de argumentos incluídos – se unam em saudável gargalhada, prosseguindo-se depois o debate, com naturalidade e á-vontade.

Finda a sessão de Loja, vamos todos jantar. E todos estão lado-a-lado e frente-a-frente, descontraídos e confiantes uns nos outros. Por vezes – tantas vezes! – os mesmos que se atiraram antes argumentos e contra-argumentos ali, à mesa, combinam estratégios, acertam soluções, para, em conjunto, conseguirem ultrapassar qualquer problema, resolver uma questão, intervir ajudando um irmão, o que quer que seja.

Na nossa Mestre Affonso Domingues, nós não discutimos: afinamo-nos mutuamente; não nos digladiamos: damos e recebemos incentivos para sermos, nós e os outros, melhores. Afinal, não fazemos nada de mais: é assim que os irmãos se comportam enre si…

Às vezes fazemos coisas boas. Às vezes estamos de pousio. Mas todos juntos! Os últimos quatro ou cinco anos foram duros e difíceis para a sociedade portuguesa. Foram duros e difíceis para alguns de nós. A Loja inevitavelmente que sentiu essas dificuldades. Muito teve de se aguentar. Algo teve de se providenciar. Não fizemos sempre tudo certo. Tomaram-se decisões com que nem todos concordaram. Mas agora cá estamos para prosseguir e iniciar novo ciclo. Crendo que o pior já passou. Mais bem preparados, porque atravessámos tempos difíceis juntos e juntos seguimos para o que esparamos sejam épocas melhores.

Por isso, se um dia destes alguém nos visitar e deparar com o nosso à-vontade em, sem pudores, debatermos algo, não se admire, nem se inquiete. Há muito que procedemos assim. Afinal, é assim que as famílias procedem. Afinal só quem for filho único é que não experimentou as brigas de irmãos, tão ferozes como espetacular tempestade, mas afinal tão inócuas que permitem que, momentos depois, se brinque, se galhofe, se conviva, se construa o essencial comum sem problemas com circunstanciais desacordos.

A Loja Mestre Affonso Domingues é, afinal, uma grande família, já com mais de 25 anos de história familiar. Onde cada um pode ser, e é, ele próprio e é assim aceite e respeitado. E aceita e respeita os demais. Mais picardia, menos resmungo, isso são detalhes, meras estratégias para da individualidade de cada um construirmos e mantermos a identidade comum de todos.

É das diferenças entre nós que se cimenta a nossa Força coletiva!

É por isso que, com a nossa indisciplina, com os nossos acordos e desacordos, debates e confrontos, cooperações e realizações, todos estamos orgulhosamente conscientes de uma coisa: pode ser que seja só para nós – mas, para nós, a nossa Mestre Affonso Domingues é a melhor Loja do mundo – e arredores!

Rui Bandeira
Publicado no Blog “A partir pedra”

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1 Response

  1. Bruno Joaquim Eduardo diz:

    Boa noite mestre eu sou de Moçambique província de Teté eu quero ser maçom

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