Da importância do acaso na descoberta do sentido da vida

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Certo dia, estando a conduzir liguei o rádio do automóvel (naquele preciso momento, não em outro qualquer). O rádio estava ligado numa determinada estação emissora (não em outra qualquer). Estava a ser transmitida uma determinada música (não outra qualquer), que me agradou muito e me reforçou a boa-disposição e abriu o sorriso.
Eu ia tratar de um assunto complicado e algo delicado num Tribunal, para o que necessitava que um funcionário judicial (sempre assoberbado de trabalho) me desse assistência, gastando razoável tempo e algum esforço. Ainda por cima, o tal assunto era desagradável para o dito funcionário, pelo que antecipava alguma má-vontade dele em auxiliar-me.
Mas eu estava tão bem-disposto com a música que por acaso ouvira, na estação de rádio que por acaso estava sintonizada no momento em que, por acaso, decidi ligar o rádio do meu automóvel, que me dirigi ao dito funcionário com um largo sorriso nos lábios, o cumprimentei alegremente, disse uma piada que também o fez sorrir e… quando lhe disse ao que ia, em vez da antecipada má reação, vi que a minha boa-disposição o contagiara e, com toda a amabilidade e todo o zelo, auxiliou-me no trabalho que eu ia fazer.
Isso reforçou a minha boa-disposição e, quando alguém seguidamente me pediu algo, não só me prontifiquei a corresponder ao pedido, como o fiz com gosto e prazer. Muitas vezes, depois disso, aquele a quem, naquela ocasião, auxiliei, retribuiu…
A boa-disposição manteve-se e, no final desse dia, ao fazer o balanço do que nele ocorrera, verifiquei que a minha boa-disposição influenciara todos aqueles com quem eu tinha interagido, que os meus sorrisos geraram muitos outros sorrisos de volta, que congregara muitas boas-vontades e que se gerara um ciclo virtuoso que levara a que tudo corresse bem e que a satisfação e boa-disposição imperassem, em mim e em todos com quem contactara.
Nesse dia, comprovei que, tal como o mal conduz ao mal, o bem gera o bem. E consolidou-se-me a noção de que tratar bem o próximo, ser simpático e empático, não só faz com que o próximo reaja no mesmo sentido, como aumenta o nosso bem-estar, a nossa boa-disposição. Em suma, que se recebe o que se dá – e exponencialmente mais.
A chave da felicidade é contribuir para a felicidade de quem nos rodeia. Poucas coisas nos aquecem mais o coração do que um sorriso feliz de uma criança. Mas, se bem pensarmos, também a constatação de um momento de felicidade num adulto influi positivamente em nós. Assim sendo, não faz sentido que ignoremos as necessidades do próximo. Pelo contrário, faz muito mais sentido ajudar o próximo a ter momentos de felicidade – porque isso nos fará duplamente felizes a nós próprios: felizes por vermos o próximo feliz, felizes porque o próximo, por sua vez, nos há de retribuir. Há quem chame a isto karma. Eu chamo-lhe, simplesmente… bom-senso.
O bem gera o bem. O belo conduz ao belo. Pelo contrário, do mal só virá mal, o abjeto só gera abjeção. E a indiferença, essa, é estéril.
O verdadeiro sentido da vida está em sermos felizes. E sermos felizes implica fazermos feliz quem nos rodeia. Logo, o verdadeiro sentido da vida está em gerar a felicidade em torno de nós e, assim, ganharmos também a nossa felicidade.
Este é, pelo menos, o meu sentido da minha vida. Serve para mim. Está certo para mim.
Mas, afinal, qual a importância do acaso na minha descoberta do meu sentido da minha vida? Para ser completamente verdadeiro… NENHUMA! Não cheguei a esta noção porque uma bela manhã liguei o rádio e ouvi uma música que me agradou. Se assim fosse, teria de concluir que, se tivesse ouvido uma música que me fosse muito desagradável, isso viria a fazer de mim um patife da pior espécie…
O caráter gera-se e aperfeiçoa-se. Mais do que consequência de uma música ouvida ao acaso, aquilo que sou e que penso resulta de toda a minha vivência, dos princípios em que acredito e procuro seguir. E muita importância nisso tem a minha condição de maçom e a vivência com os meus Irmãos, em Loja e fora dela.
Então porque intitulei este texto “Da importância do acaso na descoberta do sentido da vida”? Porque é um título muito mais apelativo do que se simplesmente escrevesse “O sentido da vida”, ou algo semelhante. Provavelmente, haverá muito boa gente que só leu este texto até aqui porque aquele título suscitou a sua curiosidade… Considere-se, pois, este título uma piada, um piscar de olho meu na tentativa de ajudar quem ler este texto a ter um momento de felicidade – e, já agora, a motivá-lo para dar felicidade aos que o rodeiam.
Façam o favor de ser felizes. Para isso, a melhor forma é… espalhar Felicidade. E verão que, no final, a vossa vida teve muito mais significado do que simplesmente viver uma vidinha de procurar ter…
Rui Bandeira
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