Casamento maçónico
Um ilustre Irmão perguntou-me porque é que em certas jurisdições os maçons repetem os votos de casamento em Loja em presença dos Irmãos e das famílias e ainda se tal seria um modismo ou se tinha alguma concatenação histórica.
As aspas colocadas no título deste texto denunciam que a minha opinião não é particularmente entusiasta em relação a esta prática que, tanto quanto sei, tem essencialmente lugar no Brasil. Mas, apesar disso, manda a justiça frisar que no grande país lusófono da América do Sul, tal prática não deve ser considerada um modismo, pois encontra-se enraizada nos costumes locais, sendo reconhecida por várias Obediências Regulares brasileiras. Já a “importação” dessa prática para outras paragens, na minha opinião, sofreria desse pecado…
Antes do mais, deve refutar-se a designação de “casamento maçónico”. A este respeito, transcrevo parte de um texto que consigna as conclusões de um simpósio sobre o tema”Maçonaria e Religião” que decorreu em Belo Horizonte em 10 de setembro de 2005, sob a égide do Supremo Conselho do Grau 33 para a República Federativa do Brasil, Rito Escocês Antigo e Aceito (texto completo aqui):
Casamento: Cerimônia tradicional entre os maçons, ligada ao matrimonio, é atualmente denominada, “CONFIRMAÇÃO MATRIMONIAL”. Não se trata de uma solenidade religiosa, nem cívica, conforme normalmente se considera. Não é tampouco uma solenidade substitutiva daquelas que normalmente ocorrem num templo religioso. Nesta solenidade, evocando os valores da família, sempre exaltados pela maçonaria, os cônjuges – normalmente já casados – se comprometem perante os membros da loja e demais maçons de outras lojas, a manterem firmes e constantes os vínculos que livremente resolveram celebrar. A maçonaria lembra o dever de cada um, bem como suas responsabilidades na condução da família, célula essencial da sociedade.
O cerimonial nada tem de religioso, é uma solenidade fraterna e humanitária muito usual entre maçons. É antes de tudo uma afirmação da maçonaria aos valores éticos e morais de uma sociedade formada por famílias solidamente constituídas.
O erradamente designado “casamento maçónico” deve então, com maior correção, ser designado por “confirmação matrimonial”. Também encontrei a designação, que me parece igualmente adequada, de “reconhecimento conjugal” num outro texto de que, pelo seu evidente interesse, transcrevo o seguinte excerto:
Após e somente de posse do registro do Cartório o Irmão poderia pedir a Loja que lhe fizesse seu Reconhecimento Conjugal. Há vários rituais para o ato, cada Potência/Obediência adota um. O mais importante é sempre ressaltar que NÃO SE TRATA DE CASAMENTO MAÇÔNICO. Maçonaria não é religião e nem substitui os requisitos e formalidades que as leis do país estabelecem para a validez do matrimônio.
Em resumo, trata-se de um costume brasileiro que, tendo ali criado algumas raízes, deve ser respeitado pelo significado que os maçons ali lhe atribuem, embora reconheçam (como no texto sobre “reconhecimento conjugal” também se assinala, e dele novamente cito) que alguns procedimentos adotados pelas Potências/Obediências Maçônicas não estão diretamente ligados aos Ritos Maçônicos. Muitas atividades foram criadas para atender a demanda dos Maçons. Um exemplo é o Reconhecimento Conjugal, algumas Potências/Obediências criaram um momento próprio para a apresentação da esposa do Irmão a todos os demais Irmãos e cunhadas.
Reconhecendo a intenção dos Irmãos brasileiros, não me parece que deva ser um costume que seja asado importar para a Europa. A Maçonaria busca possibilitar e enquadrar o esforço de aperfeiçoamento individual dos seus membros. A cerimónia de “reconhecimento conjugal” ou “confirmação matrimonial” não tem nenhum significado esotérico ou simbolismo maçónico, reconduzindo-se, afinal, a uma festividade social levada a espaço no espaço de um templo maçónico. A meu ver, deve-se reservar o espaço e o tempo e o modo de reunião dos maçons para o que simbólica e espiritualmente tem significado para estes e contribui para o aperfeiçoamento de cada um e de todos. As festividades sociais, o regozijo pelo enlace matrimonial, o acolhimento das esposas dos nossos Irmãos no círculo de amizades e social dos maçons pode e deve ser naturalmente feito fora e para além do espaço da Loja. Por muito bonita que seja a cerimónia, por muito belo que seja o texto ritual que para ela foi criado, continua a não ser mais do que uma festividade social…
Fontes
Conclusões do Simpósio sobre “MAÇONARIA E RELIGIÃO”, ocorrido em belo Horizonte em 10 de setembro de 2005, sob a égide do Supremo Conselho do Grau 33 para a República Federativa do Brasil, in http://www.guatimozin.org.br/artigos/mac_religi.htm .
Quirino, A. R. L. S. Presidente Roosevelt, n.º 25 da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Reconhecimento Conjugal, 21 de agosto de 2011, in http://www.aminternacional.org/PDF/ReconhecimentoConjugal_Quirino.pdf
Rui Bandeira
Publicado no Blog “A partir pedra” em 20 de Março de 2013