Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite – Introdução
O Rito Escocês Antigo e Aceite é hoje um dos mais praticados ritos maçónicos no Mundo. Milhares e milhares de maçons o executam. Os seus ensinamentos são objeto de reflexão. As suas cerimónias tocaram e tocam o coração dos que neste rito trabalham. Embora com as normais variantes locais, é hoje um rito estabilizado, em que cada um, independentemente da sua língua ou da especificidade nacional, em qualquer parte do mundo o reconhece e facilmente se integra na sua execução. No entanto, poucos conhecem a sua origem e as vicissitudes dos seus primórdios – no fundo, aquilo que fez deste rito o que ele é hoje.
Nos Estados Unidos – apenas com a residual exceção de meia dúzia de “lojas vermelhas” na Louisiana – o Rito Escocês Antigo e Aceite não é praticado nos três graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre), existindo apenas como Sistema de Altos Graus, os chamados graus filosóficos. Na Europa, na América Latina e um pouco por todo o resto do Mundo, porém, o Rito Escocês Antigo e Aceite é trabalhado nos três primeiros graus (graus simbólicos) em Lojas agrupadas em Grandes Lojas ou Grandes Orientes, dedicados apenas ao trabalho nos “graus da Ordem” (Cratf degrees), os ditos três primeiros graus, ou graus simbólicos, de Aprendiz, Companheiro e Mestre, e nos restantes graus em Lojas, Capítulos ou Conselhos de Altos Graus ou graus filosóficos, normalmente sob a égide de Supremos Conselhos do Rito.
Que originou esta diferença?
E porque é que o Rito é Escocês? Terá sido por ter sido criado na Escócia? Terá – como algumas lendárias teses ciclicamente ressurgidas defendem – alguma coisa a ver com a mítica e escocesa Rosslyn Chapel e os não menos míticos Cavaleiros Templários alegadamente fugidos para aquele País, na sequência da destruição da Ordem do Templo pelas atuações conjugadas de Filipe IV, dito o Belo, mas certamente não de caráter, e do Papa Clemente V, que de clemente bem pouco teve?
E porque é que é Antigo? Porque existe desde tempos imemoriais, evoluindo em linha direta desde os tempos dos Mistérios egípcios, passando pelos geómetras gregos, pelos Cruzados e desembocando nos humildes canteiros europeus, pelo ramo popular, e nos orgulhosos Cavaleiros, pela via nobiliárquica? Ou simplesmente será Antigo por oposição a algo que era considerado Moderno?
E porquê Aceite? Em contraposição a algo que o não era? Ou tem esta designação algo a ver com os cavalheiros que, não sendo trabalhadores do ofício da construção em pedra foram aceites nas Lojas reguladoras do dito ofício?
E é tal Rito uma criação de alguém determinado, designadamente o também mítico Cavaleiro Andrew Michael Ramsay, ou simplesmente Chevalier Ramsay, ou resulta de contribuições dispersas?
Foi propositadamente estruturado e organizado? Ou é o resultado, o que sobreviveu, de uma confusa proliferação de ritos e graus?
Cada cabeça, sua sentença! Muitas lendas, bastantes interpretações ad hoc e considerações que na realidade no sei veras, embora nos atraiam por serem bene trovatas por aí pululam relativamente ao REAA.
Não sou historiador. Não estou por isso capacitado para dar uma versão cientificamente fundada dos factos que deram origem ao rito. Mas, sendo um leitor compulsivo e voraz e tendo-me habituado a pensar pela minha cabeça, penso poder dar uma opinião não demasiadamente infundamentada de como realmente apareceu e se estruturou o rito, procurando destrinçar factos de lendas, sucessos de especulações, acontecimentos de ficções.
E, por falar em factos, estabeleça-se já o primeiro: o Rito Escocês Antigo e Aceite estruturou-se ao longo do século XVIII e fixou-se na sua forma muito semelhante à atual no início do século XIX.
Como e em que circunstâncias, é o que começarei a tentar explicar a partir do próximo texto.
In Blog “A Partir Pedra” – Texto de Rui Bandeira. (12.01.2011)