Irmãos em campos diferentes
Estamos, em Portugal, a menos de um mês da realização de eleições autárquicas. Por todo o país se veem cartazes de propaganda eleitoral. Inevitavelmente que neste mês de setembro a atenção das pessoas é convocada para este tema.
Também os maçons não ficam indiferentes. São cidadãos e obviamente que se interessam e preocupam com a coisa pública e com a gestão das autarquias onde residem, onde trabalham, onde os seus filhos frequentam estabelecimentos de ensino.
Naturalmente que, entre o apreciável número de cidadãos que se candidatam às diversas freguesias e diferentes municípios também existem maçons, um pouco por todo o país.
Em relação à Loja Mestre Affonso Domingues, num rápido cálculo, cerca de dez por cento dos seus obreiros são candidatos nas próximas eleições autárquicas ou estão diretamente envolvidos nas candidaturas, em várias autarquias da Área Metropolitana de Lisboa, em vários partidos e candidaturas independentes. Não é nada de anormal: não andará muito longe do ratio entre candidatos e eleitores.
Na Loja Mestre Affonso Domingues existem mesmo candidatos à mesma autarquia por listas diferentes, ou seja, opondo-se entre si. Mais uma vez, nada anormal: em Maçonaria Regular, em Loja não se discute política nem religião. O que não pertence à Loja fica fora da Loja e, portanto, nenhum constrangimento esta situação gera.
Mas o contacto entre os obreiros da Loja não se resume às sessões da Loja. Há o antes e o depois, há ágapes, há o normal relacionamento entre Irmãos que se conhecem alguns desde há apreciável lapso de tempo. Também fora de Loja o facto de haver integrantes de diferentes candidaturas à mesma autarquia não gera qualquer desconforto ou desentendimento. Tem isso a ver, desde logo, com algo que os maçons cultivam e que muito útil é neste tipo de situações: a Tolerância.
A Tolerância consiste na natural aceitação das ideias, entendimentos e crenças do outro, mesmo quando diferentes das nossas – especialmente quando diferentes das nossas! É portanto natural para um maçom que o seu Irmão tenha ideias políticas diferentes das suas. E que as defenda. E que se candidate com base nessas ideias. Mesmo que essa candidatura seja concorrente da sua. Portanto, nada de mais existe no facto de haver na nossa Loja integrantes de candidaturas concorrentes às mesmas eleições na mesma autarquia.
Isto é o normal, o básico, o minimamente exigível em Maçonaria – e que, sem qualquer esforço é praticado na Loja Mestre Affonso Domingues.
Mas eu, do meu canto de veterano há muito retirado destas coisas da política, tenho verificado, com enorme satisfação, que os Irmãos interessados e integrantes das diversas candidaturas, na mesma ou em diferentes autarquias, não se limitam a este “mínimo olímpico” e vão, com toda a naturalidade, muito mais longe. Tenho verificado, com imenso agrado, que (sempre fora de Loja, naturalmente) os Irmãos candidatos não se limitam a não conflituar. Conversam sobre as respetivas candidaturas, expõem os seus projetos e planos e, mesmo, aconselham-se mutuamente, partilhando as suas experiências.
Vou assistindo a isto – bem de perto. E fico, naturalmente, muito satisfeito. Diria até que duplamente satisfeito, como cidadão e como maçom. Como cidadão, porque sei que aqueles que porventura forem eleitos serão capazes de, no respeito das suas convicções, bem servir o Povo que os elege, cooperando com os outros eleitos, independentemente das suas candidaturas de origem, no sentido de todos fazerem o melhor que puderem, com os meios de que dispuserem. Como maçom, porque vejo como a efetiva aplicação dos princípios maçónicos é útil, gera concórdia, permite cooperação.
É por estas e por outras que não me vejo a ser obreiro de outra Loja que não a Mestre Affonso Domingues!
Rui Bandeira
Publicado no Blog “A partir pedra” em 4 de Setembro de 2013