Diálogo (VI)
– Ontem foi a votação sobre se serias admitido à Iniciação ou não…
– Já não era sem tempo! Há meses que apresentei a candidatura… Vocês não encaram a hipótese de fazer um curso de produtividade? São piores que os Tribunais…
– Produtividade é analisar bem as situações, ser prudente e reunir todos os elementos para chegar à melhor solução possível. Produtividade é diminuir os erros.
– Mas porque é que demoram taaaannnto tempo?
– Nem sequer demorámos muito tempo. Para tua informação, só dois meses ficou a tua candidatura exposta no quadro de informações…
– Para quê?
– É o tempo mínimo que uma proposta de candidatura tem de ficar exposta para poder ser vista por todos e poder qualquer maçon, mesmo se de Loja diferente da que a vai votar, colocar objecções.
– E se alguém colocar objecções?
– O Venerável Mestre da Loja onde decorre o processo analisa-as e decide se continua com o processo normalmente, se diligencia a recolha de mais informações (por exemplo, ouvir o visado sobre a objecção exposta) ou se pára o processo.
– Com tantas precauções é milagre uma candidatura ser aceite…
– Não. É simplesmente responsabilidade…
– Mas afinal qual foi o resultado da MINHA votação????
– Foste aprovado para Iniciação com uma votação pura e sem mácula!
– Votação pura e sem mácula?
– Por unanimidade! As votações por voto secreto são realizadas pelo método bola branca – bola preta. Quem concorda, coloca uma bola branca na urna; quem discorda, coloca uma bola preta: Uma votação pura e sem mácula é aquela em que, verificada a urna, só se vêem bolas brancas, que não é maculada por nenhuma bola preta…
– YYYYEEESSSS! Arrasei! Maioria super-hiper-mega absoluta…
– Calma com o entusiasmo. Passaste à justa!
– À justa? Se foi por unanimidade!
– Pois, isso mesmo. É que uma candidatura só é aprovada se não tiver votos contra, isto é, se for aprovada por unanimidade. Percebes agora porque é que eu disse antes que era vantajoso para o candidato designar-se para o inquirir quem tivesse na votação inicial manifestado objecções… É a melhor forma de verificar se as objecções são ultrapassadas, de forma a que não seja colocada uma bola preta na hora da verdade…
– Mas… Unanimidade? Assim qualquer maçon pode bloquear uma admissão.
– Quase… Há válvulas de escape para prevenir injustiças. Por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues, se houver duas ou mais bolas pretas, a candidatura é rejeitada. Mas se houver, apenas uma bola preta, a decisão final fica adiada para a sessão seguinte.
– Porquê?
– Porque, nessa eventualidade – e só nessa!-, quem colocou a bola preta tem a obrigação de, em privado, explicar ao Venerável Mestre as razões da sua oposição solitária. O Venerável Mestre tem o poder de, em face da explicação recebida, confirmar a bola preta (o que implica a rejeição da candidatura) ou anulá-la, se entender que essas razões são fúteis ou infundamentadas. Se anular o voto contrário, então só contam as bolas brancas e a candidatura é aprovada.
– Então e se quem votar contra não for justificar a sua razão?
– É impensável que um maçon não assuma a responsabilidade de justificar um seu voto ao Venerável Mestre. Portanto, se porventura ocorrer uma votação em que haja uma bola preta que não seja justificada, o Venerável Mestre só pode tirar uma conclusão: a bola preta foi colocada por lapso, inadvertidamente, e portanto anula-a.
– E dois votos contra? Também precisam de ser justificados?
– Aí já não. Já há duas cabeças a declarar oposição, já não há necessidade de mais qualquer explicação. A candidatura fica rejeitada.
– Mas a minha foi aceite! E agora?
– Agora esperas que eu te diga quando serás iniciado. A paciência é, decididamente, uma virtude indispensável aos maçons…
In Blog “A Partir Pedra” – texto de Rui Bandeira (15.05.2007)