Diálogo (III)
– Antes de passar o teu pedido, tenho de te informar sobre questões materiais…
– Questões materiais? Então a Maçonaria não trata do aperfeiçoamento moral e espiritual?
– Claro que sim, mas isso não impede que, como qualquer organização, não tenha de se preocupar com aquilo com que se compram os melões…
– Já estou a ver o filme! Como já estou convencido a comprar a ideia, agora é altura de falar do preço… Tens a certeza que não foste vendedor de automóveis em outra incarnação?
– Nem acredito em reincarnações! Deixa-te de piadinhas e ouve, para saberes como as coisas se passam.
– Sou todo ouvidos!
– Se fores admitido à iniciação, coisa de que me permito duvidar se continuas com essas piadinhas secas…
– Diz o roto ao nu! Continua, continua…
– Se fores admitido à iniciação, o custo de adesão será de 250,00 euros.
– É carote…
– Na realidade, estás a pagar o avental e outro material que irás receber, além de uma contribuição para os custos gerais. Meu caro, a Maçonaria não se senta à mesa do Orçamento, somos nós que pagamos tudo o que é necessário…
– E já pensaram em deslocalizar para a China o fabrico dos aventais, para os terem mais baratos?
– Ainda não nos tinha ocorrido… O teu espírito empreendedor ainda nos vai ser útil… Adiante! Quanto à quota, é paga trimestralmente e são 60,00 euros, ou seja, 20,00 euros por mês.
– É mais caro do que a quota do Benfica…
– Por enquanto… Mas também não se perdem campeonatos… Repito: todas as despesas, quer da Grande Loja, quer da Loja, são exclusivamente suportadas pelos seus membros. Há que pagar aos funcionários, custear as instalações, telecomunicações, água, electricidade, adquirir materiais, custear viagens, enfim, todas as despesas inerentes ao funcionamento de uma estrutura de alguma dimensão.
– Percebo tudo isso e sei que os custos de funcionamento de qualquer estrutura são elevados. Mas o certo é que, com essas obrigações financeiras, certamente existem interessados que deixam de o ser por não terem condições materiais…
– Infelizmente os custos são o que são. Mas, em casos de necessidade, existem mecanismos que permitem analisar a situação de cada um e diminuir ou até mesmo isentar durante algum tempo o pagamento das quotas, justificando-se tal medida. Mas é verdade que existe a necessidade de um esforço financeiro que, não sendo incomportável, para muitos é importante. Bem gostaríamos que esse esforço fosse menor, mas a realidade é o que é. Por isso mesmo consideramos fundamental informar os interessados das obrigações financeiras que deverão cumprir. A Maçonaria é, para nós, importante, mas à frente de tudo está a família de cada um e só se não prejudicar a estabilidade económica de sua família é que cada um deverá decidir entrar para a Maçonaria. Ser homem de bem é, antes do mais, assegurar o bem-estar dos seus! O resto, mesmo a Maçonaria, só vem depois!
(Nota: Os montantes mencionados neste texto são os que estão em vigor, na data de elaboração do mesmo, na Loja Mestre Affonso Domingues)
In Blog “A Partir Pedra” – texto de Rui Bandeira (23.04.2007)